O protesto dos caminhoneiros também é didático.
Os caminhoneiros têm pleitos que, sabemos, jamais se concretizarão. A principal fantasia dos caminhoneiros é crer que têm influência para forçar Dilma a renunciar. Anteontem, os manifestantes chegaram a declarar que o movimento só será suspenso quando a presidente entregar o cargo.
Convenhamos, até nossos cães sabem que essa possibilidade inexiste. Inexistindo, o movimento dos caminhoneiros será mantido indefinidamente, certo? Mantido indefinidamente, logo, logo começará o desabastecimento.
Um dos pontos sempre sensíveis nesses momentos é o mercado de combustíveis.
Aí entra o didatismo do protesto atualmente em cartaz.
Todos recordamos como se fosse ontem: quando o governo autoriza reajuste do combustível nas refinarias, no mesmo dia, no máximo no dia seguinte o reajuste chega à bombas dos postos. Em uníssimo, os proprietários dos postos defendem o mesmo argumento: os estoques são suficientes para um, dois dias. Por isso eu, você, todos nós compramos combustível velho com preço novo horas depois do reajuste ser anunciado.
Neste momento de protestos o discurso é outro. Segundo o presidente do Sindipetro Serra, Luiz Henrique Martiningui, em caso de desabastecimento os postos têm estoques para três, quatro dias.
A lição: quando o combustível é reajustado na refinaria, os estoques dos postos são de um, dois dias; quando (e se) faltar combustível, os estoques seguram três, quatro dias.
Outro episódio envolvendo caminhoneiros que pode ser interpretado como didático. Na primavera de 1972, proprietários de transportadoras do Chile deflagraram greve geral. O movimento impediu o plantio da safra, abrindo caminho para os milicos do Pinochet derrubarem o socialista Salvador Allende, meses depois. Aqueles eram outros tempos.
A greve chilena, inclusive, era apoiada pela CIA. Hoje, embora o Brasil esteja em frangalhos, é delírio (ou tentativa de golpe) forçar um presidente da República a renunciar.
Antes de tudo é preciso respeitar as leis.
Respeitando as leis, respeita-se o cidadão.
Opinião
Gilberto Blume: o protesto dos caminhoneiros também é didático. Antes de tudo, porém, é preciso respeitar as leis
Respeitando as leis, respeita-se o cidadão
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