A busca pela segurança nossa de cada dia consegue ser contraditória e tornar inseguro o que deveria ser seguro.
Explico.
Alguns dos 17 leitores da coluna por certo já foram apresentados a alguma lotérica que isolou os atendentes com aqueles vidrões blindados.
Pois.
Os vidrões que protegem os funcionários das lotéricas são os mesmos vidrões que fragilizam e expõem o cidadão. O paredão transparente é tão, tão seguro que impede inclusive a passagem do som.
Faça o teste, tente pagar uma conta telefônica. Você terá de ditar aos berros o seu número de telefone, caso contrário o atendente não conseguirá ouvi-lo. Resultado, todos os clientes da lotérica saberão o número do seu telefone.
Pior que isso é sacar dinheiro.
Igual ao número do telefone, você terá de gritar o valor que pretende sacar.
- Quanto?
- Duzentos!
- ???
- DU-ZEN-TOS! - você repete, reforçando a informação com mímicas e outras macaquices.
Desnecessário dizer que todo mundo que está na lotérica sabe que você sairá com R$ 200 no bolso, e essa informação deveria ser sigilosa, jamais pública.
É óbvio que as lotéricas precisam adotar todos os mecanismos possíveis para se proteger, pois as casas são alvo preferencial da bandidagem. O problema não é a proteção dos caixas; o problema é a desproteção do cidadão.
É bacana saber que os funcionários das lotéricas que adotaram os grossos vidros estão conseguindo trabalhar com mais tranquilidade, mas é péssimo ouvir uma senhorinha berrando que sim, que pretende sacar todo o dinheiro da aposentadoria.
O que fazer para equacionar o problema?
Não sei, alguém sabe?
O que todos sabemos, isso sim, é que alguma medida eficaz precisa der adotada para reduzir a criminalidade não só contra as lotéricas, mas contra todos.
O cobertor que nos deram está ficando cada vez mais curto.
Se puxamos a coberta para proteger a cabeça, descobrimos os pés, e vice-versa.
E assim seguimos, absolutamente incertos quanto ao futuro, essa incógnita que nos proporciona uma surpresa atrás da outra, às vezes boa, mas muitas vezes ruim.
Opinião
Gilberto Blume: o cobertor que nos deram está ficando cada vez mais curto
Se puxamos a coberta para proteger a cabeça, descobrimos os pés, e vice-versa
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: