Gilberto Blume: Irma Overlock questiona: ‘senador e deputado limpam o popô de forma diferente dos demais brasileiros?’

Irma Overlock matuta, matuta, matuta, mas não consegue compreender algumas regras brasileiras. Nesta semana a costureira foi confrontada duas vezes com regras incompreensíveis. Primeiro, nove dos 13 senadores do PT tentaram livrar o companheiro Delcídio da cadeia. Os petistas pró-Delcídio alegavam que parlamentar com mandato só pode ser preso mediante flagrante.

É a regra, defendiam. Discute daqui, protesta dali, os nove petistas não levaram porque a votação no Senado foi aberta. Irma crê piamente que se a votação fosse secreta, hoje o companheiro Delcídio estaria solto. Mas não é esse ponto que a costureira descompreende. Irma tenta entender por que senador e deputado têm tratamento diferente se a Constituição diz que somos todos iguais perante a lei. A costureira defende que se somos todos iguais perante a lei, senadores e deputados deveriam ser tratados como qualquer outro brasileiro.

- Deputado e senador limpa o popô diferente dos outros brasileiros para ter tratamento especial perante a lei? - pergunta Irma.

A costureira também ficou de cara, sem entender lhufas, quando soube que André Esteves foi transferido de cadeia porque não havia mais cela especial para abrigá-lo na cadeia em que fora originalmente trancafiado.

- O banqueiro tem direito à cela especial porque tem formação superior. Regras são regras - explicam a amigas de Irma.

Não adiantou, a costureira seguiu tonta de dúvidas. De novo ela questiona: se todos somos iguais perante a lei, por que preso com canudo universitário tem direito à cela especial?

- Acaso as galinhas roubadas pelo brasileiro com formação superior são diferentes das galinhas roubadas pelo brasileiro sem diploma?

As amigas riem da costureira abraçada à Constituição:

- Irma, querida, não seja ingênua. A Constituição não foi elaborada para ser justa, mas justamente para traçar diferenças entre uns e outros brasileiros. E, respondendo as suas dívidas, os parlamentares limpam, sim, o popô de forma diferente de nós e as galinhas roubadas pelos pobres são, sim, diferentes das galinhas roubadas pelos ricos.
A ficha começa a cair para Irma.