Deu na imprensa recentemente: o brasileiro fica em média três horas e quarenta minutos online no celular.
Por dia.
Três anos atrás, o brasileiro permanecia "apenas" uma hora e 18 minutos agarrado ao aparelhinho.
Por dia.
Segundo pesquisa da GlobalWebIndex, especializada em métricas do mundo digital, ocupamos o terceiro lugar no ranking mundial, atrás da Tailândia (quase quatro horas por dia) e da Arábia Saudita (três horas e 48 minutos).
Dia desses estive no Brasil como poucas vezes estive.
Cenário: um restaurante à hora do jantar.
Paisagem: algumas mesas ocupadas, entre elas por um grupo formado por dois jovens casais e uma mulher adulta.
Calhou de eu sentar ali perto. Enquanto esperavam os pratos, todos do grupo estavam em silêncio. As duas jovens e os dois jovens teclavam, teclavam, teclavam. A mulher adulta sobrava, resignada, sem celular, incomunicável ao lado dos dois casais.
A comida veio, o grupo comeu. Da mesa vieram algumas palavras esparsas, algo tipo "alcance o saleiro, por favor". Os celulares, porém, foram mais requisitados do que os guardanapos.
O garçom recolheu os pratos, a deixa para os dois casais se atracaram valendo nos celulares. Será que os jovens se falavam pelos celulares? Ninguém se olhava, ninguém se tocava.
Pior, ninguém falava com a mulher - e essa insensibilidade me apavorou.
Podem me taxar de antiquado, de ultrapassado, de conservador, de atrasado, de.
Nesse caso sou tudo isso, sim, e ainda consigo extrair algum orgulho de ser assim atrasado.
Aquela mulher abandonada na mesa do restaurante instiga a refletirmos sobre o que essa dependência tecnológica crônica pode produzir nos relacionamentos.
Talvez eu esteja errado, talvez o futuro seja mesmo fechar a redoma e exercitar os dedos, a mente e o coração unicamente no teclado.
Tomara esse futuro demore até eu e a mulher do restaurante termos tempo de alcançar a velhice conversando olho no olho com outras pessoas.
Opinião
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