Ninguém seria inconsequente de ignorar a importância da campanha contra a compra e a venda de mercadorias ilegais. A compra e a venda de mercadorias ilegais não proporcionam benefício algum para quem quer que seja. A venda de artigos ilegais não gera empregos, impostos, nada - mas beneficia um grupelho de foras-da-lei que forra os bolsos facilzinho, facilzinho. A compra também não provoca benefício algum. À falsa sensação de que adquirimos um artigo pagando uma pechincha soma-se a inexistência de garantia, o incentivo ao contrabando, etc.
A campanha, pois, é bem-vinda, especialmente porque mira no consumidor, que é quem faz essa roda girar, mas.
Mas campanhas só não bastam.
É preciso exigir fiscalização e, sobretudo, olhar para o próprio umbigo. A totalidade dos empresários que tanto protestam por causa da concorrência desleal faz sua parte de verdade? Um exemplo: todos, todos mesmo emitem nota fiscal quando vendem alguma coisa?
Quem emite nota fiscal sempre, maravilha, está moralmente apto a exigir que o Estado fiscalize o comércio ilegal, pois nesse caso a concorrência de fato é desleal.
Já quem não emite nota fiscal sempre não tem moral alguma para exigir providências contra o comércio ilegal, tampouco para "conscientizar" o cidadão dos males que provoca ao adquirir mercadorias ilegais.
Como escrevi, a campanha dos comerciantes é importante, eles estão tentando fazer sua parte nesse complexo jogo do mercado.
As cidades, os Estados e o país, porém, estariam menos pobres se a sonegação fosse menor. A Associação dos Técnicos Tributários do RS estima que em 2014 o Estado teria arrecadado R$ 3,2 bilhões a mais se a fiscalização fosse rígida. Os R$ 3,2 bilhões estão fazendo enorme falta.
Os fiscais, contudo, também foram afetados pela ineficiência que faliu os governos. Os técnicos sequer têm aparelhinhos de leitura de código de barras. O equipamento custa menos de R$ 20. Que venham as campanhas contra o comércio ilegal, mas que venham acompanhadas de mais seriedade de todos, sem exceção.
Lembremos sempre: a hipocrisia de Eduardo Cunha é a hipocrisia geral brasileira elevada ao quadrado.
Habemus santo?
Opinião
Gilberto Blume: as cidades, os Estados e o país estariam menos pobres se a sonegação fosse menor
A hipocrisia de Eduardo Cunha é a hipocrisia geral brasileira elevada ao quadrado
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