O 2 de novembro, Finados, é uma data triste para aqueles que já perderam um ente querido, mas também um dia para lembrar dessas pessoas por meio de orações e visitas aos túmulos onde estão sepultadas. Para os idosos, que perderam o seu companheiro de uma vida inteira, o que lhes resta são as lembranças. Assim é para a pensionista e artesã Terezinha Loeni Boch Rosa, 64 anos. Viúva há quatro anos de Davenir Henrique Rosa, o Seu Nini, ela lembra com saudades do marido que ficou hospitalizado durante um ano. Ela e os quatro filhos se revezaram para ajudá-lo.
- Depois que ele faleceu comecei a fazer artesanato para passar o tempo porque hoje moro sozinha. Têm dias que a casa fica cheia de gente e até esqueço que aconteceu tudo isso, mas quando fico só, eu chego a desanimar. Em 10 anos, eu perdi o meu pai, uma irmã, a mãe e o marido - desabafa.
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Para Terezinha, o lado bom é saber que pode contar com os filhos, mas o marido faz falta.
- A palavra de autoridade era muito importante. Ele falava com determinação. Quando um deles precisa de um conselho, sempre vem na mente, se o Nini estivesse aqui, o ajudaria de tal maneira - lembra.
De acordo com a psicóloga e especialista em situações de luto, separações e perda, Neusa Picolli Fante, quando uma perda ocorre em nossas vidas, é preciso repensar, em função de que a vida não para. Existe um cuidar do luto, mas também um cuidar da vida.
- Ressalta-se que só vai existir luto se tiver existido amor, por isso é importante caminhar sobre essa experiência da dor, vivenciando tudo que faz parte desse processo, incluindo tristeza, angústia, dor - explica.
Neusa lembra que as mulheres são ensinadas a expressar suas emoções e os homens, a seu modo, a reprimi-las. Isso, no entanto, não quer dizer que exista mais ou menos sofrimento para um ou outro.
- Com o acompanhamento de um profissional ambos são incentivados a expressar as emoções - recomenda.
A esteticista Neiva Elizabeth Klagenberg Ruzzarin, 60 anos, ficou viúva há seis anos e oito meses. Em uma viagem de férias, ela, o marido e a filha se acidentaram. Dezessete dias depois, ele precisou voltar ao hospital, já que sentia muitas dores. O diagnóstico foi câncer nos ossos.
Daí em diante, Luiz Carlos Ruzzarin, 56, piorou, permaneceu nove dias hospitalizado e faleceu. Foi muito difícil porque entre namoro e casamento somavam 30 anos.
- Tudo mudou na minha vida. Eu já estava aposentada, precisei voltar ao mercado de trabalho. Isso porque a nossa única filha, a Camila, com 17 anos na época, terminava o 3º ano e ia prestar vestibular. Então precisava começar a pensar em pagar a faculdade dela, já que o que recebia da aposentadoria não seria o suficiente - explica.
Neiva conta que hoje trabalha com o que gosta e realiza cursos para se atualizar na área.
Quando engravidou da filha, Neiva se perguntava o porquê de ter sido mãe aos 37 anos e não mais jovem, já que estava tentando há vários anos e perdido um bebê. Além disso, na época não era normal ter filhos tardios.
- Hoje eu compreendo, porque Deus precisava me dar uma companhia quando tivesse que levar meu marido. Assim, minha filha ainda estaria comigo (morando na mesma casa) e eu não ficaria sozinha - diz.
Neiva diz que ainda não consegue se ver com outra pessoa e que também não está procurando.
Grupo de apoio ao luto
Os encontros do grupo de apoio ao luto: transformando a dor em laços de amor, da Pastoral da Esperança, com coordenação psicológica da equipe de profissionais da Clínica Psicológica Luspe - Luto, Separações e Perdas, ocorrem na Igreja Imaculada Conceição (Capuchinhos), aos sábados, das 8h30min às 10h30min. Neste ano, ainda serão realizadas três reuniões: 7 e 21 de novembro e 5 de dezembro.
O grupo é aberto à comunidade e gratuito. Os cuidados psicológicos são prestados às pessoas que procuram ajuda por estarem atravessando situações de luto em função da perda de pessoas amadas, como filhos, pais, netos, cônjuges e irmãos. Os grupos respeitam a individualidade de cada pessoa de acordo com a crença e o tempo que enfrentam o luto.
De acordo com a coordenadora da Pastoral da Esperança, Jacinta Carrer, idosos também participam do grupo e trazem consigo o luto pela perda de familiares.
- Desta forma, o grupo é um espaço de fala, escuta, acolhimento, amparo e apoio, onde é possível expressar a dor sentida e compreendê-la como essencial no processo de luto para atravessar o sofrimento e a possibilidade de reconstrução da vida. Essas pessoas contam com o apoio do grupo para ir compreendendo, ressignificando, transformando e se adaptando a esta nova realidade para que o laço de amor construído com a pessoa amada nunca morra - explica.
Melhor idade
Dia de Finados é dia de lembranças para idosos
Viúvos precisam reaprender a viver sem o companheiro de uma vida inteira
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