Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que cerca de 10% da população sofre com algum tipo de dependência, seja alcoólica ou química. Com isso, Caxias do Sul tem pelo menos 47,5 mil usuários de álcool e drogas. Pela Pastoral de Apoio ao Taxicômano Nova Aurora (Patna) passam, em média, 500 pessoas por mês em busca de ajuda para tentar sair do vício.
Dependência não tem cura, somente controle. Os que realmente querem ter controle sobre a droga são internados por nove meses na Comunidade Terapêutica da Pastoral. A cada 10 internos, três conseguem se reintegrar à sociedade e ganham o título de dependentes químicos em recuperação. Dilon Borges, 42 anos, faz parte dessa parcela da população caxiense. Está "limpo" há 15 anos. Não se considera curado.
- Sou um ex-usuário de drogas e álcool - admite.
Teve o primeiro contato com o álcool aos 15 anos, no auge da euforia da juventude. Foi um copo e, logo depois, um porre numa casa noturna, numa noite do ano 1988. O suficiente para mudar sua vida. Trabalhava em uma empresa multinacional e jamais imaginou que pudesse se tornar um dependente químico. Aos 17 anos, conheceu a maconha e, aos 19, a cocaína, que o levou ao fundo do poço. Foram 10 anos de luta, de rompimento de laços profissionais, familiares e amizades. Perdeu o emprego, arrumou outro, perdeu novamente e, de novo, se entregou à droga.
Leia também: Comunidade Terapêutica da Patna, em Caxias do Sul, completa 20 anos
Não tinha mais por onde afundar. Em 1999 chegou o primeiro sinal de socorro. Convidado por um amigo, começou a frequentar um grupo de oração na catedral Diocesana de Caxias do Sul. Não tinha ideia de parar, mas queria dar uma amenizada no clima em casa. Lá conheceu outra pessoa que o levou até a Patna. Seu primeiro contato foi com uma das fundadoras, Maria de Lourdes Grison, a Lurdinha. Era o começo do milagre. Ela o convenceu a se internar na Comunidade Terapêutica por nove meses. Passou pela casa de triagem e chegou à Fazenda no dia 24 de dezembro de 1999, véspera de Natal. Chorou a noite inteira.
Foi lá que começou a se reencontrar espiritualmente.
- O tratamento foi muito difícil. É uma nova proposta de vida, em que precisamos abrir mão de muitas coisas. Renunciar a pessoas, hábitos e lugares - conta.
Após o tratamento, a primeira recaída
Dilon cumpriu o prazo de nove meses e voltou à realidade fora dos muros. Foi um baque. Tinha medo até de atravessar a rua. Tentou retomar sua vida, mas não resistiu à tentação. Seis meses depois, teve uma recaída e voltou para as drogas. Três meses consumindo cocaína foram suficientes para ele se conta que a recuperação só dependeria dele. Se internou na Fazenda Senhor Jesus, de Viamão. Mais nove meses de abstinência e uma vontade louca de sair de lá.
- Queria ir embora todos os dias - lembra.
Resistiu até o final. Buscou força na fé.
- Foi nesse período que a doença começou a despertar minha atenção. Precisava querer e resolvi viver um dia de cada vez. Pedia a Deus para conseguir ficar pelo menos mais um dia.
Leia as últimas notícias do Pioneiro
Saiu consciente que precisava seguir o caminho em busca da redenção. O destino o levou a trabalhar como estagiário numa comunidade terapêutica em São Paulo. Aprendeu muito, ficou por lá três anos.
Sem medo de mostrar a cara
Dilon voltou a Caxias e foi trabalhar na Patna, comunidade que o acolheu na primeira etapa de sua trajetória. Hoje, é outra pessoa.
- O passado me condena, mas o presente me absolve - ressalta.
Não tem medo ou vergonha de falar do seu passado, nem de mostrar sua cara. É a sua história.
Atualmente, atua na Pastoral como voluntário, é consultor em dependência química, dá palestras e capacitações para prevenção de drogas, coordena grupos de ministros da Eucaristia de 27 comunidades da paróquia Imaculada Conceição e cursa o terceiro semestre da faculdade de Processos Gerenciais. É casado e tem um filho de 10 meses.
Aos jovens, ele deixa um conselho:
- Tudo é permitido, mas nem tudo convém. Pense nas suas escolhas para não se arrepender depois.
À Patna, ele deixa sua gratidão.
- Não fosse a entidade ter lançado esta semente, não fosse a Lurdinha ter acreditado em mim, não estaria aqui hoje me considerando um vitorioso.
Ele se considera curado espiritualmente, mas sabe que sempre será um ex-usuário de drogas.
- Sei que a recaída está ao alcance do meu braço. Respeito o álcool e as drogas, mas acredito no meu potencial. Deus me deu uma folha em branco e reescrevi minha vida. Hoje, essa é minha verdadeira história. Sem drogas.
Estimativa
Caxias do Sul tem cerca de 47,5 mil usuários de álcool e drogas
Pela Pastoral de Apoio ao Taxicômano Nova Aurora (Patna) passam, em média, 500 pessoas por mês em busca de ajuda para tentar sair do vício
Ivanete Marzzaro
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project