Gilberto Blume: o que os 17 leitores da coluna têm a ver com os resquícios de meus traumas meteorológicos? Nada

Neste momento em que as 17 almas leitoras desta coluna estão com o jornal na mão deve estar chovendo. Deveria estar chovendo, prometeram os institutos, e os institutos, sabemos, estão com a credibilidade em alta.

Chover não é mais novidade alguma entre nós. A exceção é não chover.

Como a chuva voltou hoje, esta noite retomo as vigílias a que tenho me submetido desde que os céus começaram a despencar sobre o Rio Grande.

Explico: não durmo sob temporais.

Raios e trovões combinados a vendavais e chuva de água e de granizo funcionam em meu organismo como um aditivo cerebral: desperto, perco o sono, resulto abraçado pela maldita insônia e assombrado pelos piores pensamentos.

Foi assim durante uma fieira de dias, noites atrás. Batata: mal passava da meia noite, a brisa se avolumava até assoviar, os terríveis raios eram seguidos de tonitruantes trovões, a chuva açoitava o telhado.

Nem doses generosas de diazepam devolveriam o sono roubado.

De manhazinha, ao despertar de mais uma noite pessimamente dormida, corria ao rádio e à internet para saber quem foram as mais recentes vítimas, onde a tempestade fora mais inclemente, o que o vendaval, o aguaceiro, a chuva de pedras provocaram. Confesso, ao pisar o conforto do tapete do quarto era impossível não refletir: sobrevivi de novo.

Admito que essa roda doentia deita-não-dorme-desperta-lamenta-os-estragos não ajuda em nada a minimizar meus temores.

Esse meu medo pânico tem explicações lá atrás, na primeira infância, quando um temporal... Mas essa é outra crônica.

E o que os 17 leitores da coluna têm a ver com os resquícios dos meus traumas meteorológicos?

Nada, apenas estou tentando atrai-los para a crença, jamais comprovada, de que energias positivas são capazes de evitar que o telhado das nossas casas saia voando por aí, como se tivesse vida própria, como fosse a natureza.

Oremos.