Carlos Barrios é um estudioso na área da oncologia. No Hospital São Lucas, em Porto Alegre, desenvolve atividade de pesquisa clínica no desenvolvimento de novas drogas para o tratamento de uma variedade de tumores. Participa de vários estudos clínicos nacionais e internacionais e seu interesse particular é no desenvolvimento de grupos cooperativos de pesquisa clínica no Brasil e na América Latina.
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Ele diz que há mais de 170 mil estudos em andamento em todo o mundo, menos de 2% deles estão acontecendo no Brasil.
- De acordo com a nossa potencialidade temos uma proporção irresponsável de estudos que a gente poderia participar e não participa.
Segundo o especialista, com essa demora, o Brasil aborta a possibilidade de o paciente ter acesso a ótimos tratamentos, o país perde transferência de conhecimento inovação.
Nesta entrevista, além das pesquisas ele fala das terapias-alvo e a hormonioterapia.
Pioneiro: Quais as taxas de cura, atualmente, dos casos de câncer de mama no RS?
Barrios: Depende da extensão da doença no momento do diagnóstico. Quanto antes o diagnóstico, maiores a taxas de cura. No RS é o tumor mais comum entre as mulheres. De todas as diagnosticadas, 87% estão vivas há mais de cinco anos. Taxas semelhantes às dos países desenvolvidos e muito superiores às que encontramos em outras regiões do Brasil.
Quais os avanços das pesquisas e da medicina que miram o câncer de mama?
O tratamento personalizado, ou medicina de precisão, é particularmente importante no câncer de mama. Diferenciar o que cada paciente tem de diferente das outras e definir um tratamento de acordo com sua doença específica é o que estamos tentando desenvolver cada vez de forma mais profunda na abordagem do câncer de mama.
O que são as terapias-alvo e como elas agem no tumor de mama?
Quando identificamos uma alteração molecular definida num determinado tumor, e conseguimos desenvolver uma droga para aquela alteração estamos utilizando uma terapia alvo. Desta forma, no câncer de mama, temos alterações como receptores de hormônios (que quando presentes são tratados com anti-hormônios) e receptores de HER2 (que são tratados com medicações específicas).
Esses novos medicamentos chegam ao RS? De que forma?
Eles são desenvolvidos em pesquisas internacionais (onde o Brasil participa), depois são aprovados primeiro pelas autoridades regulatórias dos US (FDA) e, posteriormente, por autoridades de outros países. No Brasil, a aprovação tipicamente acontece de dois a quatro anos depois.
O que é a hormonioterapia e como ela age no câncer de mama?
Hormonioterapia se aplica em pacientes que apresentam tumores com receptores hormonais. O objetivo é bloquear o estrogênio e a progesterona, que podem estimular o crescimento do tumor. Podemos eliminar a produção de hormônios femininos, bloquear a função destes hormônios, interferir com os receptores ou fazer uma combinação desses mecanismos.
Como o senhor avalia o tratamento contra o câncer de mama daqui a 10 anos?
Acredito que estamos avançando, lentamente, mas avançando. Daqui a 10 anos vamos ter condições de definir melhor as diferenças entre tumores. A famosa frase "cada caso é um caso" vai ser possível em quase todos os casos. Esse é o primeiro passo para desenvolver tratamentos específicos e diferentes para cada caso. Estamos avançando nessa direção. Isso nos levará a tratar melhor as pacientes, de forma muito mais racional e obviamente levando a melhores resultados.
