Pular corda, pega-pega, bolinha de gude, carrinho de lomba. As brincadeiras antigas estão cada vez mais raras na rotina das crianças da chamada Era Digital. Os jogos virtuais ganharam espaço, principalmente na última década, e vêm se firmando no dia a dia da gurizada. A simplicidade parece estar perdendo forças na queda de braços contra a tecnologia.
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Em meio à rotina escolar e atividades extras, é fundamental que a criança tenha tempo para se divertir, aponta a psicóloga Luciana Mancio Balico. A falta de brincadeiras na infância está sendo tratada em consultórios. Acredite! Conforme a psicóloga, o não-brincar traz prejuízos para o desenvolvimento infantil, tanto na formação da personalidade e socialização, quanto para o aperfeiçoamento das habilidades motoras.
- Percebemos que hoje em dia tem muitas crianças precisando fazer reforço com especialistas em psicomotricidade, porque ficam limitadas ao apartamento. Acaba-se tendo que fazer a busca desse novo profissional para poder desenvolver questões simples, como pegar um pincel, chutar a bola, pular corda. É um problema novo que não se via antigamente, porque as crianças podiam estar na rua, jogando bola, brincando com a bolinha de gude - opina a profissional.
Luciana explica que o acesso a televisão, internet, computador e outras tecnologias deve ser dosado conforme a faixa etária. Ela reforça que o uso destes meios é positivo quando bem administrado.
- Algumas escolas estão colocando no currículo o uso do computador, chamando de alfabetização digital. As crianças precisam ter o contato com essa ferramenta para ter uma nova habilidade. Em casa, os pais podem oferecer os jogos educativos - exemplifica Luciana.
Conheça a história de crianças que, mesmo com a tecnologia à disposição, preferem as brincadeiras tradicionais.
Diversão na rua
Quem chega na casa da agente comunitária de saúde Vanessa da Silva Melo, 30, logo percebe que tem criança por ali. A bola no quintal e o videogame instalado na televisão fazem parte da rotina dos irmãos Alexia Melo Antunes, 2 anos, Marlon Euclides Melo dos Santos, 8, e Gregori Euclides Melo dos Santos, 11. Marlon é o mais falante de todos e anuncia que seu passatempo favorito é jogar futebol na rua com seus amigos. A família mora no bairro Vila Ipê, Zona Norte de Caxias.
- Quando eles estão em casa, ficam no X-BOX, jogam futebol na rua e brincam com os vizinhos. No fim de semana, eles treinam para o campeonato de futebol de rua. Quem gosta mais do videogame é o maior (Gregori), o menor (Marlon) prefere o futebol. Eles são umas crianças que não ficam muito tempo no computador ou no videogame. Eles jogam um pouco, mas já saem pra brincar de outra coisa - conta Vanessa.
Recentemente, Marlon e Gregori participaram de um campeonato de ioiô e, desde então, não largaram mais o brinquedo. Os dois estudam na escola Ruben Bento Alves no período da manhã, almoçam no local e participam do projeto Mais Educação à tarde. Nas segundas e quartas-feiras, os meninos voltam para casa para jogar futebol na quadra do bairro. A pequena Alexia passa o dia todo em uma escola de educação infantil.
Quando a lama vira brinquedo
É no interior de Ana Rech, na comunidade de Bevilaqua, que os irmãos Eduardo Mariano Dal Zotto, 9 anos, e Leonardo Luciano Dal Zotto, 10 anos, aproveitam a infância em meio à tranquilidade do campo. Depois da aula, na Escola Municipal Clóvis Bevilaqua, é no quintal que os meninos passam maior parte do dia, segundo os pais Sandra Perozzo Dal Zotto e Luciano Dal Zotto.
A maior diversão de Léo e Dudu, como foram apelidados pela família, é brincar na lama formada em uma espécie de riacho, ao lado da residência. Em dias chuvosos, a opção é usar o galpão para jogar futebol e brincar com a patrola de plástico. Filhos de agricultores, os meninos têm a sua própria horta, estimulados pelos pais.
- Nós fizemos a hortinha com o objetivo de eles verem a plantinha crescer e ter a sua própria salada. O Léo entende mais do que eu da plantação - comenta Sandra.
Frequentemente, Léo e Dudu acompanham os pais na ida até a roça, onde a família cultiva pêssego, caqui, ameixa e pera. O uso de computador e videogame é moderado. Sandra conta que os irmãos preferem as brincadeiras ao ar livre. Além dos garotos, os agricultores também são pais das adolescentes Letícia e Jennifer, de 13 e 14 anos.
Brincadeira virtual
A pequena Gabriella Ferrer Limberger, 8 anos é definida como uma menina high tech (alta tecnologia, em inglês) pela mãe, a gerente de loja, Isabela Ferrer, 37. Gabi é bastante ligada à tecnologia e já tem até um canal no YouTube com o seu nome e um perfil no Facebook. O ambiente virtual foi criado pelo pai, o gerente de hipermercado Silvio Limberger, 43, a pedido da garota. No canal, Gabi faz desafio com os pais e sonha em ter mais inscritos - atualmente são quatro.
Comunicativa, a garota logo explica que gosta de mexer no computador, mas prefere pular corda, brincar com as vizinhas do prédio e andar de bicicleta. Segundo Isabela, não é preciso estabelecer limites para o uso da internet, já que a menina passa pouco tempo no computador.
- Quando as amiguinhas dela vão lá em casa, elas preferem brincar com as bonecas. A Gabi mesmo nos critica se ficamos muito no celular - revela a mãe.
Gabriella estuda no Colégio Murialdo à tarde. Duas vezes por semana, faz aulas de teclado. Na quarta-feira, parte do tempo da menina é ocupado com as aulas de balé. Para o futuro, Gabi já avisa que quer fazer teatro para ser atriz quando crescer.
Nas férias, o destino é a casa dos avós, em Santa Cruz do Sul, onde a garota pode brincar com mais tranquilidade ao ar livre e pescar. O sonho dela é visitar Paris, na França, e morar no Rio de Janeiro.
Infância
Conheça histórias de crianças de Caxias que preferem brincadeiras tradicionais
Os jogos virtuais ganharam espaço e vêm se firmando no dia a dia da gurizada
Alana Fernandes
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