Vera não trabalhou ontem. Também não trabalhará hoje. É provável que Vera não trabalhe na segunda-feira, talvez nem na terça. Vera não está de papo para o ar por opção: ela trata de um pé torcido ao pisar numa falha no asfalto. O incidente ocorreu na quarta. Ao descer do ônibus e se dirigir para casa, Vera foi vitimada pelo pavimento-armadilha. Sabem por que ela pisou no buraco do asfalto? Porque aquele trecho da rua não tem calçada, e o pedestre precisa invadir o asfalto.
O pé de Vera parece um melão.
Conheço Vera há anos. Ela é a amiga que manda lá em casa. É verdade. Semanalmente, ela comparece por algumas horas. Quando sai, deixa para trás um brinco de casa. Vera é uma caxiense como tantas outras. Trabalha, pratica o bem, vive em paz, transmite tranquilidade. Como tantos outros caxienses, agora ela também tingiu seu currículo com um tombo estúpido, doloroso e perfeitamente evitável.
Se eu fosse a Vera processaria a prefeitura, o proprietário do terreno sem calçada, o bispo, quem seja.
O conceito é antigo, tão antigo que por aqui está imobilizado por teias de aranha, mas segue atual: os espaços públicos precisam privilegiar o pedestre. O primeiro passo é espanar as teias e construir calçadas, consertar calçadas, multar os proprietários que descumprem a lei da calçada.
Está fazendo um ano agora que um amigo caiu numa calçada-armadilha da Rua Olavo Bilac. Na época, o pé dele também parecia um melão.
Meses depois do tombo, uma trombose acometeu a perna ferida. O médico não descarta a torção no pé como causa da trombose.
Se eu fosse meu amigo processaria a prefeitura, o proprietário do terreno sem calçada, o bispo, quem seja.
Vera se acidentou na Rua Anício Borges dos Santos, uma das principais do São Caetano. A inexistência de calçadas decentes é a regra naquela região, situação agravada pelas ruas esburacadas.
Algumas quadras longe do lugar em que Vera se feriu faltam calçadas nos dois principais pontos do bairro: na frente do salão paroquias da Igreja São Caetano e no terreno da UBS.
Esperar o que se quem deveria dar o exemplo comete tamanho desrespeito?
Fique bem, Vera.
Opinião
Gilberto Blume: Vera torceu o pé num buraco na rua. Perto dali, não há calçadas nem na igreja, nem na UBS
Ao descer do ônibus e se dirigir para casa, ela foi vitimada pelo pavimento-armadilha
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