Gilberto Blume: novela exibe os cânions para todo o país, de graça, mas estrutura dos cânions está longe fazer jus

Uma das paisagens mais belas do Rio Grande do Sul, e do país, está sendo entregue de bandeja para todo o Brasil desde julho por meio da novela das seis da Globo. Além do Tempo, a novela, dá enorme destaque aos cânions que bordam os limites de Cambará e de Ausentes com Santa Catarina. Uma coisa, porém, é ver os cânions pela TV; outra coisa é visitá-los pessoalmente. Também nesse caso nem tudo que é visto de perto é o que parece ser.
 
O que oferecemos ao visitante que se apaixona pelos cânions da novela e resolve investir tempo e dinheiro para conhecê-los pessoalmente? Sem exagero, oferecemos desleixo, sinalização precária, péssimas estradas, infraestrutura vergonhosa: o banheiro do Itaimbezinho, por exemplo, fede pedindo manutenção; não há sequer um ponto de venda de água (desde 2009). Os 18km entre Cambará e o Itaimbezinho estão esburacados além da conta. O que deveria ser um passeio prazeroso vira uma tortura sacolejante.
 
Aparecer em novelas significa obter visibilidade mais eficiente do que muitas peças publicitárias. Os cânions estão sendo vistos por milhões de brasileiros, sem que os governos gastem um tostão pela divulgação. Esses milhões de telespectadores são potenciais turistas. Um funcionário do parque revela que a visitação aumentou consideravelmente nos últimos dois anos, e deve aumentar ainda mais com a combinação novela + dólar proibitivo para viajar ao Exterior. A estrutura oferecida, porém, está longe de acompanhar esse boom.
 
As cenas da novela são deslumbrantes, traduzem com sobras a embriagante beleza natural dos cânions, mas a contrapartida humana fica devendo, e muito. A saber, os Parques Nacionais de Aparados da Serra e da Serra Geral somam 30 mil hectares tombados para preservação e administrados pelo governo federal. São áreas públicas, portanto de propriedade do povo brasileiro. E o povo brasileiro, também aqui, não cobra providências para que seu patrimônio seja tratado com respeito.
 
Uma forma de cobrar providências a fim de manter os parques nacionais é reportando o que vemos na Ouvidoria do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, o ICMbio: icmbio.gov.br.