Quando fui convidado a escrever neste espaço, de pronto planejei recordar as nevascas de 2000 e 2013, quando o acúmulo de neve permitiu que formássemos rechonchudos bonecos, escrevêssemos palavras espirituosas no capô dos carros, fotografássemos a rodo para provocar inveja nos amigos e parentes fixados em pontos menos temperados do Brasil. Até o ginásio de esportes plantado no meio do Parque dos Macaquinhos se rendeu ao peso da neve de 2000 (e o monstrengo foi tarde, diga-se).
Confesso, seria deveras interessante dividir com o leitor aqueles dois momentos de friaca mais intensa que experimentei em 17 anos de Serra, mas.
Mas os dias têm mostrado que seria uma fria falar de neve após duas semanas de calorão. No fim de semana passado, por exemplo, mergulhei num açude para refrescar o corpo após algumas horas de trabalho ao ar livre. O banho competiu em qualidade e frescor com os mergulhos de janeiro, fevereiro.
Fosse em outros invernos, o mergulho de sábado poderia resultar numa hipotermia irreversível. Neste inverno, porém, corremos o risco de desidratar por excesso de suor.
Ainda não sei se este inverno está sendo melhor ou pior do que invernos passados e invernos futuros. Sei, só, que este calor fora de época está esquisito. Há plantas florescendo antecipadamente, abelhas que só desentocariam em setembro recolhendo o pólen que sequer deveria existir, meu pé de maracujá nem sofreu o revés da geada e florescesse como fosse dezembro. Tivéssemos ursos, os bichos estariam se espreguiçando sob a terra e antecipando em dois meses o fim da hibernação.
Assim calorzinho está bom, é agradável, mas está esquisito.
Por essas e outras elejo este o inverno da minha vida. Pelo menos até este 2015, nada de mais impensável me foi apresentado num inverno, exceto aquele 7 x 1 em julho do ano passado, mas esse é outro bafão.
Crônicas de inverno
Gilberto Blume: os dias têm mostrado que seria uma fria falar de neve após duas semanas de calorão
Até setembro, aos sábados, jornalistas do Pioneiro contam histórias da sua relação com a estação
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: