No mesmo dia em que você lê esta matéria, mais de 70 carretas só de aço transitam pelas precárias estradas da Serra, além de outras com demais matérias-primas e com a produção. Sem transporte ferroviário ou aeroporto de cargas, resta apenas o modal rodoviário como opção para que itens daqui escoem para outras regiões do Estado ou do Brasil. Trechos das principais ligações são de pista simples e há cruzamentos perigosos.
INFO: veja pontos críticos que contribuem para a falta de logística na Serra
Trevo da Telasul é um dos pontos críticos para a mobilidade na Serra Gaúcha
Duplicação é carência da RSC-453, entre Farroupilha e Garibaldi
ERS-122 entre Farroupilha e São Vendelino carece de duplicação urgente
Caxias do Sul, segunda maior cidade do Rio Grande do Sul e polo industrial, não tem ligação duplicada com o centro do país, com a capital Porto Alegre, sequer com Bento Gonçalves. Vias com curvas sinuosas e má sinalização aumentam o risco de acidentes. Diante da lentidão dos governos e da escassez de recursos, o diagnóstico não poderia ser outro: a Serra está imobilizada.
Risco de acidentes é constante no entroncamento da ERS-122 com a RSC-453
Sem espaço para ampliação do atual aeroporto, Caxias vê na iniciativa privada a chance de conquistar um novo terminal
Apesar das barreiras logísticas, Caxias ostenta o PIB de R$ 16,6 bilhões e sustenta o título de segundo polo metalmecânico nacional, perdendo apenas para o ABC paulista. O município de quase 500 mil habitantes poderia alcançar ainda melhor desempenho com investimentos em infraestrutura, a exemplo do que ocorreu em Joinville, em Santa Catarina.
Com 554 mil pessoas e PIB de R$ 18,3 bilhões, a cidade catarinense é ligada a duas capitais, Florianópolis e Curitiba, pela BR-101 duplicada, e a licitação para a duplicação da BR-280 está concluída. O aeroporto oferece 12 voos diários e há mercado para ampliação, enquanto Caxias oferta três. Tudo foi possível graças a muito planejamento, explica o secretário de Desenvolvimento Econômico da cidade catarinense, Jalmei José Duarte.
Por aqui, a estimativa é de que a logística aumente o preço de um produto em 19%. O culpado não é apenas o combustível: o tempo perdido e os prejuízos causados em viagens em péssimas estradas também entram na conta. Como consequência, empresas acumulam perdas na margem de lucro, caso da PHD Guindastes, que aponta redução de 5%.
A esperança da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias (CIC) é de que o governo atenda aos pedidos de melhorias em quatro pontos de rodovias da região (leia nas próximas páginas) e que o novo aeroporto de Vila Oliva saia do papel, mesmo que via iniciativa privada, com garantias de sobrevida ao Hugo Cantergiani até a entrada em operação do novo terminal.
- Estamos preocupados em manter as empresas que temos aqui. Quantos empregos perdemos com a recessão? Esse custo de logística hoje é inaceitável - prega o diretor de Infraestrutura e Política Urbana da CIC, Nelson Sbabo.
Devolver a mobilidade à Serra não é tarefa fácil e levará tempo. Doutor em Engenharia de Produção e mestre em gestão portuária e transporte intermodal, Guilherme Bergmann Borges Vieira faz referência ao que levou Joinville a conquistar a estrutura atual, quando fala de planejamento:
- A prioridade inicial é primeiro garantir as melhores condições possíveis para o modal rodoviário. Num segundo momento, pensar em outras alternativas, numa ótica de planejamento.
* André Fiedler e Jean Prado colaboraram
