Eles são descendentes de quarta ou quinta geração de imigrantes italianos e desde cedo incorporaram o trabalho como valor fundamental da existência. Falam dialeto, transitam entre as áreas urbana e rural e exercitam o orgulho das origens no dia a dia. Com conhecimento técnico, visão cosmopolita e valorização do regional, empreendedores e pesquisadores com idades entre 20 e 30 anos estão mudando o perfil do turismo e enograstronomia da Serra. Manter-se à frente dos negócios da família garantem não só o futuro dos empreendimentos, mas do desenvolvimento da região.
Na residência de 1889, situada no final dos Caminhos de Pedra, em Bento Gonçalves, os sorridentes irmãos Paulo Ricardo Ferrari, 21 anos, e Paula Raquel Ferrari, 24, atendem os visitantes com a intimidade de quem cresceu junto com o negócio familiar. Ambos começaram a trabalhar na Casa da Erva-Mate há 12 anos, ainda crianças, e são capazes de realizar todas as tarefas necessárias para a manutenção da atividade _ desde a queima da erva-mate (para se ter uma ideia, cada 100 quilos de erva verde produzem 30 quilos de erva-mate, em um processo que costuma demorar dois dias) - até a venda de produtos derivados dela.
- Tem gente quem vem aqui e quer ser atendido por aquele menininho. Eles se espantam ao ver que o Paulo cresceu - ri a mãe, Jaqueline Margarete Bohm Ferrari, 49, que começou a trabalhar na roça aos sete anos.
Paulo faz sucesso no ponto desde pequeno, porque sempre gostou de atender o público e conversar. A correria é grande - num final de semana de junho, receberam 850 pagantes, que desembolsaram R$ 3 para visitar a fábrica. Segundo eles, o número de não-pagantes dobra. Não conseguem tirar férias ou almoçar juntos, e o trabalho é de segunda a segunda.
Paulo reconhece no cotidiano o espírito dos imigrantes italianos - ele é descendente de quinta geração -, capaz de unir trabalho e família. Ele e Paula mantêm o dialeto, que aprenderam em casa e, graças a ele, conversam com italianos, especialmente aqueles vindos da região do Vêneto, de onde partiram 54% dos imigrantes italianos que chegaram à região.
- Quando vêm para cá, eles dizem que podem ver a Itália de antigamente, a Itália que não existe mais - conta Paulo.
Casualmente, foi a visita de um grupo italiano, anos atrás, que deu início à loja que a família Ferrari mantém e deu mostras do espírito empreendedor da dupla.
- A loja não estava pronta, mas eles (Paula e Paulo) pegaram as cuias, organizaram e venderam tudo - lembra Jaqueline.
Essa admiração que a família conquistou é um antídoto ao preconceito sofrido na época de colégio. A vida longe do Centro da cidade fez com que os irmãos sofressem um certo tipo de preconceito.
- Hoje, a distância de 15 quilômetros é perto, antigamente ficava na colônia - diz Paulo.
- Era chamada de coloninha, mas nunca senti vergonha das minhas origens - fala Paula.
O sentimento de vergonha transformou-se em orgulho e riqueza cultural, capaz de atrair e encantar turistas.
- Nós não tínhamos ideia de que viria gente do mundo todo para visitar a colônia. Era o mesmo que acreditar que Jesus ia aparecer por aqui - relata a mãe.
Tanto que Paula, formada em nutrição, nem pensou em seguir outro caminho. Quer continuar ajudando na manutenção e crescimento do negócio.
- Vi meus pais lutando para construir esse lugar, e, para o turista, ser atendido pela família é um diferencial. Meu sonho é ter um galpão mostrando a evolução da história da erva-mate, com as vestimentas e objetos que eram usados no processo - projeta.
Comportamento
Nova geração de descendentes de imigrantes está mudando a cara do enoturismo na Serra
Com conhecimento técnico, visão cosmopolita e valorização do regional, empreendedores e pesquisadores com idades entre 20 e 30 anos estão mudando o perfil do turismo
Tríssia Ordovás Sartori
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