Gabriel Henrique do Nascimento Velho é capinador da Companhia de Desenvolvimento de Caxias (Codeca), com salário e carteira assinada. Antes, era morador de rua. Antes ainda de ser morador de rua, viveu 10 anos em abrigos para crianças e adolescentes de Caxias.
Em agosto de 2014, quando completou 18 anos, Gabriel recebeu o temido aviso para quem não é adotado: deveria ir embora. Ficou uns dias num albergue e depois foi sobreviver na rua, sem emprego, sem dinheiro. Outros jovens abrigados em diferentes épocas trilharam caminho semelhante ao de Gabriel, um triste desfecho apontado frequentemente pelos assistentes sociais.
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No primeiro dia sem apoio institucional ou familiar, o rapaz circulou pelo Centro, sem rumo e incrédulo. À noite, procurou uma pracinha, vestiu as roupas mais grossas e dormiu atrás de um arbusto.
O rapaz tentou se manter invisível nas madrugadas e longe das drogas ou bebidas. Preferia matagais onde pudesse se esconder ou os bancos do Postão 24 horas. Tinha medo de ser assassinado a exemplo do papeleiro Carlos Miguel dos Santos, 45 anos, morador de rua que só ganhou fama após ter todo o corpo queimado por adolescentes e morrer num hospital.
- Conhecia ele (Carlos) desde pequeno. Via ele nos bares quando ia com meu pai - lembra.
De Caxias, Gabriel partiu para outras cidades, tentou residir com outros familiares distantes, com amigos ou desconhecidos que lhe ofereciam biscates. Faltava vínculo e invariavelmente o jovem ficava sozinho. Um dia, de passeio na casa de um tio em Sapucaia do Sul, recebeu um telefonema que mudaria sua vida: a Codeca lhe chamara para integrar a equipe da capina. Havia sido aprovado num concurso público quando tinha 17 anos.
Com emprego garantido, Gabriel voltou a Caxias e está no albergue, de onde só sairá quando arrumar uma casa com aluguel barato. Voltou a estudar e busca um segundo emprego para aumentar a renda:
- Vou trazer meus dois irmãos que estão no abrigo e outros cinco que moram fora para viver comigo. O apoio pra quem está na rua é tudo.
Gabriel mudou de vida, mas é exceção.
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Adriano Duarte
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