Brasília avança na reforma política, desenhando uma extensa agenda para as novidades entrarem em vigor. A reforma política é considerada a reforma das reformas. É justo, pois a política é o começo, o meio e o fim de todas as ações públicas que interferem positiva ou negativamente no dia a dia do brasileiro. O caminho que a reforma precisa percorrer até se consolidar ainda é longo, muito se ouvirá falar do vaivem do assunto em Brasília. Os primeiros capítulos do processo revelam que é certo que os parlamentares não formatarão a reforma ideal, O resultado não agradará a todos, conflito que não deixa de ser interessante. Exemplo: uns de nós defendem o voto facultativo e regras mais duras em relação ao financiamento das campanhas. Outros, não.
A reforma tende a ser uma reforma longe do ideal porque o debate com a população roça o zero. O cidadão corre risco real, portanto, de mais uma vez não ter voz nas grandes decisões.
Ou os parlamentares passaram a nos representar novamente?
Ninguém sequer cogitou perguntarmos por plebiscito ou referendo se desejamos uma política eleitoral assim ou assada.
Enquanto a reforma das reforma é construída nos balcões dos gabinetes, cá na rua os assuntos dominantes são outros, passam ao largo dos interesses dos partidos. A falta de vagas em escolas infantis, a demora para consultar com especialistas do SUS, a insegurança, a precariedade dos serviços públicos são os temas das rodas. Desde anteontem Caxias praticamente só tem atenções para os bandidos mortos e presos pela polícia. O mérito é todo da polícia, parabéns, foi uma baita vitória da segurança pública (felizmente sem baixas inocentes ou mesmo entre as tropas). Mas alguma coisa vai muito mal quando chegamos ao ponto de comemorar a morte de um ser humano. Por mais desqualificado e mau caráter que o sujeito seja, ele jamais se assemelhará à erva daninha que extirpamos da horta seguidas vezes até eliminá-la sem chances de revanche.
O buraco, nem todos reconhecem, é bem mais embaixo.
Sei perfeitamente o risco que corro ao cometer essas maltraçadas, mas.
Mas lamento profundamente que tenhamos chegado ao ponto de celebrar a morte depois que permitimos (sim, permitimos) que a criminalidade se avolumasse e se tornasse incontrolável.
Nem parece, mas os assuntos em pauta nas rodas da vida real têm tudo a ver com a reforma política dos tratada nos bastidores.
Resta a nós aprendermos a amarrar as diversas pontas da realidade para enriquecermos nosso repertório e constatar que bangue-bangue entre polícia e bandidos, educação vergonhosa e SUS falho têm absolutamente tudo a ver com o Congresso, com a Assembléia, com a Câmara de Vereadores.
Opinião
Gilberto Blume: lamento profundamente que tenhamos chegado ao ponto de celebrar a morte de bandidos
O buraco, nem todos reconhecem, é bem mais embaixo
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