Caxias do Sul brilha como um oásis para quem é de fora, o que explica a proliferação da mendicância. Entrevistas a funcionários do Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua (POP Rua) indicam que parte dos moradores de rua vem em busca da suposta bonança.
- Muita gente foi trabalhar na colheita na região. Acabou a safra e ficaram por aqui porque seria pior voltar para a cidade de origem. Sem dinheiro ou local, vão para a rua - diz a gerente da instituição, Fabiana Rockenback.
INFOGRÁFICO: quem são e onde vivem os moradores de rua em Caxias do Sul
Na segunda-feira, dia 8 de junho, um jovem que se identificou como Ronaldo Eufrazia, 21 anos, confirmou a percepção dos educadores sociais à reportagem. Com o ensino fundamental incompleto, ele aguardava atendimento no Pop Rua.
- Eu tinha casa em Vacaria, pagava aluguel. Trabalhava na colheita da maçã e vim pra cá porque conheço melhor. Não achei nada ainda.
Sônia de Oliveira, 44 anos, era uma das mais novas moradoras de rua de Caxias. Disse ter migrado para a calçada por falta de alternativa. No feriado de Corpus Christi, ela se juntou a um grupo assentado às margens da BR-116, ao lado de um mercado na Rua Serafim Terra, entrada do bairro Cruzeiro. Três dias depois, foi abordada pelo POP Rua e recebeu convite para se cadastrar no serviço. Sem formação profissional, afirmou não conseguir trabalho.
- Já fui camareira de hotel. Nos últimos tempos ganhava dinheiro como diarista, mas as donas estão preferindo fazer o serviço sozinhas e não chamam mais. Não tenho mais como pagar aluguel da pecinha lá no bairro Planalto e vim morar aqui _ revelou a mulher.
Há agravantes, porém:
- Usuários de drogas se mantinham bem de alguma forma com um salário, com uma rotina. Mas com a crise foram os primeiros a perder o emprego. Assim, romperam o vínculo, deixaram de morar em pensão ou na casa que dividiam com algum amigo, se desestabilizaram e voltaram para a rua - constata Fabiana.
Luciano de Borba Reis, 40, tenta arrumar trabalho. Diz que dorme em uma calçada porque não tem recursos para alugar um quarto ou casa. Sobrevive de cata r material reciclável e de R$ 100, R$ 150 que o pai dele manda via banco. Deixou neta e duas filhas com a ex-mulher em uma cidade dos Campos de Cima da Serra.
- Não é vida pra ninguém, não estamos aqui porque é bom. Tenho condições de trabalhar como auxiliar-geral, mas onde está o emprego? - desabafa.
Vida ao relento
Falta de oportunidades leva homens e mulheres para a mendicância em Caxias
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Adriano Duarte
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