A adaptação dos imigrantes em Caxias do Sul é difícil. Embora a maioria esteja absorvida pelo mercado de trabalho, muitos ainda enfrentam constrangimento ao precisar de consulta médica, por exemplo.
É comum os estrangeiros saírem do Postão 24H sem diagnóstico, já que a comunicação entre médicos e pacientes depende da presença de alguém que entenda o wolof, principal idioma do Senegal. Alguns deles falam francês, língua que aprendem na escola.
Abaixo, uma lista com itens favoráveis e desfavoráveis apontados por um dos líderes dos senegaleses, Aboulahat Ndiaye, o Billy, e a coordenadora do Centro de Atendimento ao Migrante (CAM), Irmã Maria do Carmo dos Santos Gonçalves.
O que funciona
Documentação: rapidez da Polícia Federal no atendimento de pedidos de refúgio. Isso acaba atraindo imigrantes que nem chegam com a intenção de residir em Caxias e depois se mudam para outras cidades. O Pioneiro tentou contato com o chefe da Polícia Federal, delegado Noerci da Silva Melo, mas ele não estava em Caxias do Sul.
Trabalho: Dos cerca de 3 mil migrantes que vivem em Caxias, o CAM estima que 95% estejam empregados formalmente. Grande parte atua em frigoríficos e indústrias metalúrgicas ou de alimentação. Há também uma parte que atua como ambulante na área central.
- É uma minoria, e quem opta por ser ambulante é porque sempre trabalhou com isso. Muitos deixaram Caxias e foram para cidades que deem chance de regularizar essa situação - diz Maria do Carmo.
Segundo a irmã, o sistema de emprego tem funcionado bem porque há comprometimento com o Sistema Nacional de Emprego, o Sine, que os encaminha para as vagas com respeito e esclarece eventuais dúvidas que tenham.
O que não funciona
A chegada: A chegada a Caxias é marcada por falta de informação. Quando desembarcam na rodoviária, os senegaleses costumam ser levados por taxistas até a loja de Billy. Lá, Billy contata amigos ou os leva para uma residência alugada no bairro Bela Vista. A casa abriga cerca de 30 pessoas. Há falta de comida e agasalhos.
Educação: É incerto o número de crianças estrangeiras matriculadas em escolas, mas diretores e professores concordam sobre a falta de planejamento para que esses alunos se integrem.
- Eles se adaptam mais fácil por serem jovens, mas enfrentam grande dificuldades com o idioma. Muitas vezes, professores que falam inglês driblam a situação, mas não há tradutor ou monitor que os ajude - conta a diretora do Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendonza, Fabiana Simonaggio.
Segundo ela, no Cristóvão há dois haitianos que foram muito bem recebidos pelos colegas.
- O maior problema deles, de fato, é o idioma.
Saúde: Ainda que também tenham direito a atendimento pelo SUS, os estrangeiros têm dificuldades de comunicação durante a consulta. É comum chegarem ao Postão 24 Horas para triagem e não conseguirem se expressar e dizer o que sentem. O diagnóstico, naturalmente, fica prejudicado.
- Muitos acabam me ligando pedindo ajuda ou voltam para casa sem atendimento - explica Billy.
O diretor de Atenção Básica do Município, o médico Cezar Augusto Roncada, afirma que imigrantes têm comportamento semelhante ao dos caxienses:
- Eles também recorrem ao Postão 24 Horas com muito mais frequência do que às Unidades Básicas de Saúde (UBS).
Imigração
Imigrantes enfrentam problemas de adaptação em Caxias do Sul
Falta de informação e dificuldades de comunicação são alguns dos principais entraves
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