Gilberto Blume: dois exemplos de como a humanização do trânsito ainda é sonho distante

Por um tempo indeterminado, mas inevitavelmente longo, a sonhada humanização do trânsito seguirá sendo tão somente uma quimera. O SIM Caxias, embora louvável, será insuficiente para dar o planejado caráter humanizado ao nosso vaivém. A parceria federal e municipal que injeta milhões em obras a fim de nos convencer a trocar o carro pelo ônibus será insuficiente porque o trânsito somos nós. A pé ou sobre rodas, o trânsito sempre seremos nós. Parêntesis: e como somos amadores nesse negócio.

Dois exemplos recentes do pessimismo nutrido por este que vos fala:

1. Eventualmente paro na faixa de segurança para dar passagem a algum pedestre. Confesso que nem sempre paro, pois às vezes parar significa mais atrapalhar o conjunto do que ajudar. Desta vez parei, pois calculei custo-benefício vantajoso a todos. O pedestre era um velho de bengala. Naturalmente, ele demorou alguns segundos na travessia. Foi o bastante para que o condutor atrás de mim buzinasse, gesticulasse, esbravejasse. O velho, coitado, deve ter se sentido um criminoso. Tão logo pôde, o condutor indignado passou por mim e lançou um sem número de palavrões e xingamentos, todos impublicáveis.

2. Encontro vaga (milagres existem) e posiciono-me para ocupá-la. A vaga é apertada, mas é uma preciosidade, seria tolice ignorá-la e seguir zumbizando atrás de espaço mais apropriado. Acionei todos os sentidos e manobrei para dentro da fresta. A operação foi normal, deu certo, mas como a vaga era mínima, redobrei cuidados a fim de não encostar no carro da frente ou no carro de trás. Devo ter demorado uns 15 segundos além do que demoraria se a vaga fosse ampla. Nesses 15 segundos não queiram saber o que ouvi - tudo impublicável.

Moral: muitos que reclamam do trânsito são os primeiros a piorá-lo destilando mau humor, deseducação, deselegância, intolerância, impaciência. O SIM Caxias será entregue a um custo alto, e nada garante que a mobilidade, de fato, melhorará. O certo é que a cabeça e as atitudes de muitos seguirão exatamente como nos tempos em que começamos a nos equilibrar sobre dois pés. Depois do SIM será preciso investir mais e mais em educação. Do contrário seguiremos eternamente parados feito postes. Pior: reclamando, reclamando, reclamando.