A grande experiência na construção civil fez o pedreiro Rudinei Lopes de Moura, de 37 anos, prever o que sua família passaria. Morador do bairro União, em Flores da Cunha, ele teve que sair às pressas de sua casa, na Rua João XXIII, depois que o muro de contenção desabou, comprometendo a estrutura da residência.
Ainda em dezembro ele começou a construção para segurar a terra do terreno com o qual sua propriedade faz divisa aos fundos. O acordo era que a família construiria 2,5m de altura, com todo o material doado pela Prefeitura, enquanto o proprietário do outro terreno se responsabilizaria pelo resto.
Moura conta que quando viu o projeto, questionou a arquiteta responsável. Como trabalha na construção civil, imaginou que a estrutura de blocos, sem sustentação, não resistiria ao peso de cinco metros de terra e pedras. A profissional, no entanto, garantiu que não haveria problemas.
- Nós sabíamos que ia acontecer. A gente constrói casas para tudo que é lado. Falei que ia cair, mas a arquiteta mandou fazer assim.
Em dezembro ele começou o trabalho, seguindo as orientações da profissional. Há cerca de dois meses concluiu sua parte e aguardava o vizinho começar a sua. O pedreiro acredita que a sorte da família foi o fato de o muro não estar concluído.
Como só tinha 2,5 metros de altura, a contenção acabou atingindo menos a casa. Mesmo assim, o impacto foi suficiente para empurrar o chalé cerca de um metro para frente, deixando a fundação visível.
- Isso aí se usa, mas pra uma divisória. Muro de contenção precisa ter sustentação - conta uma engenheira que foi visitar o local, mas pediu para não ter o nome divulgado.
A profissional afirma que mesmo sem analisar detalhadamente a situação, é possível perceber que o projeto apresentava falhas. A estrutura erguida não teria sustentação suficiente para suportar o peso. A família acredita que será preciso remover o chalé.
A Prefeitura de Flores da Cunha explica que a Secretaria de Desenvolvimento Social acompanha a situação e aguarda o laudo dos Bombeiros sobre o comprometimento da residência para então avaliar quais medidas serão tomadas. O terreno de 150m² pertence ao Município, que celebrou contrato de promessa de compra e venda através do Fundo Municipal de Habitação Popular (FNHAP) em agosto de 2014 com a família.
Planta foi aprovada
A planta entregue ao pedreiro Rudinei Lopes de Moura é assinada pela arquiteta Susana Dalmolin. Ela afirma que não vai se manifestar sobre o assunto, já que a responsabilidade sobre o projeto seria da Prefeitura de Flores da Cunha, e somente nesta terça-feira vai ao município.
- Só fiz um favor ao secretário de Habitação. Não tenho como me responsabilizar tecnicamente. Só fiz o desenho para ele - diz Susana.
Porém, o secretário de Desenvolvimento Social, Ricardo Espíndola Silva, afirma que Susana era a responsável pelo projeto da casa que está sendo construída no terreno que desabou e incluiu o muro de contenção no planejamento. De acordo com ele, a Prefeitura aprovou o documento, mas não se envolveu na elaboração do projeto.
- Realmente teve um problema. Agora, com tempo, vamos apurar as responsabilidades e fazer o que for necessário - explica o secretário.
De acordo com ele, a família já entregou o laudo dos Bombeiros interditando a casa. A Prefeitura vai enviar máquinas para fazer a limpeza e refazer o muro. Provavelmente a casa precisará ser demolida.
Susto
"Falei que ia cair", diz dono da casa interditada após desmoronamento em Flores da Cunha
Pedreiro estava em casa com a esposa, cinco filhos e um sobrinho quando o chalé foi atingido pelo muro de contenção
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