O protesto de estudantes de Pedra Lisa que estão sem estudar por falta de transporte é reflexo de um grave impasse na educação de São Francisco de Paula.
GALERIA DE IMAGENS: confira fotos da caminhada
A secretária municipal da Educação, Cultura e Desporto, Ivone Marques Palma, admitiu nesta quinta-feira que mais de 30 adolescentes do interior foram matriculados no ensino médio da Escola Municipal de Lajeado Grande, mas sequer pisaram em sala porque não têm acesso a ônibus. As aulas começaram no final de fevereiro. Além de Pedra Lisa, os excluídos moram nas comunidades rurais de Cazuza Ferreira e Campestre do Tigre.
Confira o vídeo sobre a caminhada:
Contudo, o Estado diz que levar e buscar os alunos que residem no campo é responsabilidade da prefeitura de São Francisco de Paula.
Prejudicados pelo desentendimento entre as administrações, os estudantes de Pedra Lisa não sabe mais a quem recorrer. A decisão de percorrer a pé 42 quilômetros foi sacramentada há cerca de 10 dias, após reuniões entre os pais dos alunos e o integrante da ONG SOS Cazuza, Sadi Reis da Silva. As famílias afirmam que não têm condições de pagar por uma van ou micro-ônibus particular. Outros cinco estudantes deveriam participar do protesto desta quinta, mas desistiram por conta da chuva da madrugada.
André dos Reis dos Santos, 16 anos, Anderso Souza Rech, 15, porém, foram mais corajosos. Os dois enfrentaram o frio e a escuridão da noite e a estrada de chão batido para tentar sensibilizar as autoridades. Juan da Silva Moura, 11, também optou pela exaustiva caminhada porque sabe que pode ficar fora da escola quando migrar para o ensino médio daqui a três anos.
- Vim para representar uma outra estudante que tem problema de saúde e não pode caminhar - contou um cansado Juan.
A mobilização estudantil, por enquanto, parece ter surtido mais efeito entre colegas e professores. Quando o trio adentrou no portão da escola, integrantes do colégio bateram palmas em respeito ao esforço dos jovens.
Sem saber detalhes da maratona empreendida pelos adolescentes, representantes do município e do Estado evitam assumir a responsabilidade pelo problema. O chefe da 4ª Coordenadoria Regional da Educação (4ª CRE), Paulo Périco, ressalta que a situação financeira do RS é delicada:
- Todo mundo sabe disso. O município pode encontrar uma alternativa para esses estudantes. A 4ª CRE não tem autonomia para esses gastos, mas a prefeitura poderia pleitear isso junto ao Estado. Estamos preocupados com esses jovens, mas o que podemos fazer? - declarou Périco.
A secretária Ivone afirma que o transporte é pago para 725 alunos do ensino médio do interior, em convênio com o Estado. A conta não inclui quem mora em Pedra Lisa, Campestre do Tigre e Cazuza Ferreira. Mensalmente, a Secretaria Estadual da Educação destina R$ 75 mil para o pagamento parcial de três linhas próprias e 25 terceirizadas. A prefeitura complementa o financiamento desse serviço com outros R$ 253 mil. É um valor insuficiente, na opinião da secretária:
- Poderia ser ampliado o atendimento se o Estado mandasse pelo menos R$ 100 mil. O ensino médio não é responsabilidade do município mas estamos fazendo o que é possível.
Outra alternativa, conforme Ivone, seria implantar o ensino médio numa escola municipal que atende em Cazuza Ferreira. O Estado já acenou que a escola de Cazuza não tem estrutura para ampliar a oferta.
Diante do embaraço, é bem provável que os estudantes de Pedra Lisa e comunidades próximas fiquem sem aula por tempo indefinido.
Protesto
Mais de 30 jovens não estudam por falta de transporte em São Francisco de Paula
Número fornecido pela prefeitura indica que problema afeta comunidades rurais
Adriano Duarte
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