Na semana passada embiquei o carro num desses estacionamentos que brotam pela cidade.
Ao retornar, a conta dera R$ 11.
Entreguei uma nota de R$ 50.
O atendente fez caras e bocas, revirou gavetas, bolsos.
E disse não ter troco.
- Então cobre R$ 10, é o que diz a regra - devolvi, do alto da arrogância que tantas vezes acompanha o cidadão ocupado em assegurar seus direitos.
- Pior que não tenho nada, nada de troco. Nem notas de R$ 10, nem de R$ 20...
(silêncio profundo)
O rapaz perguntou se eu costumo frequentar aquela região, perto do Fórum, pois assim poderia voltar noutro dia e pagar os R$ 11 devidos.
Respondi que mui raramente passava pelo Fórum.
Ele me devolveu os R$ 50, liberou a cancela e sorriu:
- Se o senhor quiser, volte aqui dia dessas e pague o que deve.
Voltarei, não tenham dúvidas. Impossível não retribuir a confiança que o funcionário de estacionamento depositou num desconhecido qualquer.
***
Por falar em depositar confiança em desconhecidos, as telefônicas, parece, começam a pagar pelo descaso com que tantas vezes tratam o cliente.
Achei genial que a Anatel tenha obrigado a Oi a liberar os orelhões, de graça, em 15 Estados.
A punição, porém, tem valor relativo: é que a Oi descumpriu a regra que a obriga a manter funcionando um número x de orelhões. Enquanto a empresa não disponibilizar um número x de orelhões, os orelhões estarão liberados para o cidadão fazer ligações locais.
É punição, mas a Oi tira essa punição de letra, e a lista de problemas do cidadão não é reduzida num milímetro sequer. Os relatos que chegam dessa e de outras telefônicas tornam risível o caso dos orelhões. Estou ansioso esperando a hora em que os órgãos do governo comecem a cobrar de fato serviços que contratamos com as concessionárias mas que estão anos-luz longe de serem proporcionados conforme os contratos rezam.
Para começar, porém, o caso dos orelhões é bom aperitivo.
Está mais do que na hora de começarmos a respeitar quem sequer conhecemos.
Opinião
Gilberto Blume: está mais do que na hora de começarmos a respeitar quem sequer conhecemos
Impossível não retribuir a confiança que o funcionário de estacionamento depositou num desconhecido qualquer
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