O turista que vai a São Chico e Cambará, dois dos principais destinos do frio gaúcho, deve ir preparado. Além de ensacolar lãs e ceroulas, precisa reservar bom espaço para a paciência e à boa vontade para driblar a precariedade da informação oficial. Cambará, por exemplo, não disponibiliza mais mapa algum para o visitante chegar facilzinho nos atrativos (que não são poucos).
Um rapaz, funcionário público, disse que o governo do Estado atrasou o envio de mapas. O moço não sabia informar com precisão o caminho do Lageado das Margaridas, ponto deveras belo de Cambará, mas que prescinde de mapa para ser alcançado. Outro funcionário deu versão diferente: o turista pode buscar informações e mapas na internet, como se todos fôssemos obrigados a portar internet de bolso. Sem contar, claro, que em alguns grotões sequer há sinal.
Nenhuma das explicações convence. Mapinhas ainda são tão úteis quanto estradas sinalizadas, outra falha nas lonjuras de São Chico e de Cambará. Para nós, da Serra, não há segredo, viajamos de olhos vendados. Pense, porém, num baiano, num paulista, num porto-alegrense virgem da vertigem natural proporcionada pelos Campos de Cima da Serra. Esse visitante, um ET na paisagem, é maltratado com a falta de placas indicando destinos, distâncias, etc.
No fim de semana passado, Sexta Santa e Páscoa, ímãs que atraem multidões a São Chico e Cambará, teve um bocado de gente que sequer chegou perto dos cânions. Motivo: excesso de visitantes. A fila de carros serpenteava por quilômetros na estradinha de chão. De novo, faltou comunicação: custava alguém avisar, no começo da estradinha, lá na saída de Cambará, que a superlotação dominava a entrada do parque?
Centenas voltaram frustrados, sem ver o maravilhoso despenhadeiro. Fossem avisados da situação, poderiam ter optado em ir para outro atrativo menos disputado sem ter perdido horas no inútil vaivém ao Aparados. A desorganização oficial é neutralizada pela paisagem e pelas gentes. Tanto em São Chico como em Cambará, moradores, funcionários de pousadas, garçons e lojistas são simpáticos e prestativos até não mais poder. Os nativos ajudam com informações sonegadas pelos guichês oficiais e proporcionam o inigualável gostinho de quero mais.
Opinião
Gilberto Blume: a desorganização oficial dos Campos de Cima da Serra é neutralizada pela simpatia e presteza dos nativos
Os nativos ajudam com informações sonegadas pelos guichês oficiais e proporcionam o inigualável gostinho de quero mais
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