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Para a administração do Aeroporto Hugo Cantergiani, não há problemas sérios ou riscos. A Comissão de Desenvolvimento Econômico da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, ao contrário, acredita que há questões urgentes a serem solucionadas antes que os problemas de infraestrutura inviabilizem o uso comercial da estrutura. Um dos pontos mais polêmicos é a situação da sala de operações, que utiliza equipamentos da década de 1980.
Durante a reunião da comissão desta semana, um operador afirmou que se o local fosse fiscalizado, seria interditado. Segundo o presidente da comissão, o vereador Guilherme Guila Sebben, o local opera com equipamentos obsoletos. Caso fosse fechado, teoricamente o aeroporto continuaria aberto, mas na prática deixaria de operar com voos comerciais.
- Quem vai se arriscar a voar sem um contato em terra, informando as condições? Isso não interdita o aeroporto, mas inviabiliza a operação. As empresas não se arriscariam - afirma Sebben.
O administrador do aeroporto, Marcos Argüelles, explica que diversos aeroportos do Brasil utilizam o mesmo sistema que Caxias. Inicialmente ele deveria ser substituído até o mês passado, mas o prazo teria sido extendido até fevereiro de 2016.
- Eu, como profissional de segurança de voo, não vejo risco de acidentes iminente, não vejo a insegurança como foi anunciada. Há necessidade de melhorias sim. Se a empresa privada não for cumprir e não houver alternativa, o município e o estado não vão poupar esforços para as adequações - garante Argüelles.
Hoje o aeroporto de Caxias do Sul recebe seis voos por dia, sendo três decolagens e três pousos das empresas Gol e Azul, além de 30 aeronaves privadas ao mês na baixa temporada e 60 no inverno. Em fevereiro foram 14 mil passageiros, mas em média são recebidas 20 mil pessoas por mês. Os pilotos decolam e pousam visualmente, pois não há os equipamentos necessários para operação por instrumentos.
Para Arqüelles, a estrutura atende à demanda existente hoje por transporte aéreo na região. Para a Comissão de Desenvolvimento Econômico, apesar das alterações já realizadas, ainda há uma lista de melhorias a serem executadas. Os principais pontos de preocupação podem ser divididos em cinco grandes áreas: sala de operações, equipamentos, combate a incêndio, reformas e estrutura externa.
Sala de operações
Funciona com equipamentos antigos, da década de 1980, considerados obsoletos. Chamada de sala-rádio, é dali que são passadas as informações de solo aos pilotos, como condições climáticas. O local é operado pela empresa Flex, formada pela massa falida da Varig. De acordo com o administrados Marcos Argüelles, até maio o serviço deve ser assumido pela empresa MVS.
A nova responsável pelo serviço deve providenciar a substituição do equipamento, se adequando às exigências da Aeronáutica. Entre os itens que devem ser substituídos está a Estação Meteorológica de Superfície, que precisa ter o modelo analógico trocado por um digital. O município se prontificou na reunião desta semana a arcar com os custos da reforma da sala de operações, mas os novos equipamentos deveriam ser adquiridos pelo Estado.
Equipamentos
Atualmente, a pista do aeroporto pode ser utilizada em dias claros, sem neblina ou chuva forte, pois não há equipamento que permita a operação por instrumentos. Em maio de 2011 a Secretaria Estadual de Infraestrutura e Logística prometeu a instalação de ILS até o fim de 2012, o que não foi cumprido. Com o equipamento seria possível receber voos mesmo em dias sem visibilidade. Hoje o aeroporto conta com outro sistema, operando por GPS, mas o ILS é mais moderno e preciso.
Na última inspeção de rotina do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DCEA), no dia 24, foi recolhido o altímetro (ou barômetro), inviabilizando pousos e decolagens por instrumentos. Segundo Marcos Argüelles, a ausência do equipamento dificulta mas não inviabiliza pousos e decolagens com condições climáticas favoráveis. A expectativa é que um novo altímetro chegue ao aeroporto em um prazo entre três e 15 dias.
Combate a incêndio
Uma das preocupações da Comissão de Desenvolvimento Econômico é com a possibilidade de rebaixamento do nível de combate a incêndio do aeroporto. Para se manter como nível 6, seria necessário que a Brigada de Incêndio contasse com cinco bombeiros. Segundo Sebben, no ano passado eram apenas dois e, durante visita na semana passada, foram vistos quatro profissionais no local.
Além disso, o aeroporto deveria ter dois caminhões de combate a incêndio em pleno funcionamento. Hoje o local conta com dois, mas um não está com a manutenção em dia.
- Se hoje fosse realizada uma fiscalização efetiva, ele poderia ser rebaixado. Vamos buscar corrigir isso antes que tenhamos um problema - diz Guilherme Guila Sebben, lembrando que caso o aeroporto seja rebaixado não poderá mais receber voos comerciais.
Reformas
Além da reforma na sala de operações, foi levantada a necessidade de adequações na sala de desembarque e ampliação do estacionamento para aeronaves. O administrador do aeroporto afirma que para a quantidade de voos e passageiros recebidos hoje a estrutura é suficiente e não há necessidade de reformas urgentes.
Nas recentes readequações da estrutura foi disponibilizada uma sala para a Polícia Federal. Outra necessidade apontada em 2014 era a ampliação da largura da pista, o que também não é necessário hoje: segundo maior aeroporto do estado, o Hugo Cantergiani tem 1970 metros de pista, tamanho semelhante ao Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, e maior que o Santos Dumont, no Rio de Janeiro. A diferença é que Congonhas tem 45 metros de largura, contra 35m em Caxias, o que na sua opinião não atrapalha a operação hoje.
Estrutura externa
A Comissão de Desenvolvimento Econômico apontou a necessidade de construção da calçada no entorno do aeroporto, o que deve ser resolvido na próxima semana pelo Município. A implantação de táxi-lotação ligando o aeroporto à rodoviária estaria em fase de licitação pela Secretaria Municipal de Trânsito. O último ponto de competência municipal não tem data para sair do papel: a construção de um ponto de táxi fixo que ofereça abrigo a quem aguarda ou embarca em táxis no local.
RELATÓRIO
Nesta quinta-feira a Comissão de Desenvolvimento Econômico entrega um dossiê sobre a situação do aeroporto ao secretário de Estado de Transportes e Mobilidade, Pedro Westphalen. O encontro será às 10h, em Porto Alegre.