A máquina pública é um sistema complexo ajustado para que tudo dê certo. Em tese.
Um pequeno desvio pode levar tudo a perder. Não é raro que tudo dê errado. Tudo dá errado porque no meio do processo alguém falhou, alguém tomou a decisão equivocada, alguém quis errar, alguém foi levado a errar, alguém se distraiu, alguém.
Sempre tem alguém no comando da máquina. Quando tudo dá errado, portanto, a culpa não é da máquina. Didaticamente: a culpa é de alguém.
Parte da colônia de Caxias está infestada de mosquitos borrachudos porque alguém que ocupa papel chave na máquina pública errou. Fatores ambientais podem ter influenciado no aumento da incidência do inseto, mas esse fenômeno deveria ter sido detectado e combatido - por alguém. Não foi. Alguém errou, e agora parece tarde tentar conter os enxames de mosquitos
As agências do Sine estão operando miseravelmente porque o sistema está falhando. O sistema está falhando desde o fim do ano passado, e a culpa é de alguém. Esse alguém será chamado à razão, será responsabilizado, punido?
O closet de Sartori estava sendo renovado com roupas de cama e banho de primeiríssima linha. Alguém da máquina encomendou o enxoval público, e a compra foi desautorizada quando o caso saiu na imprensa. Esse alguém teria sido desautorizado caso o caso não fosse descoberto?
Ninguém é santo, todos podemos errar na condução das máquinas sob nossos guarda-chuvas. Quando o erro acontece na máquina pública, porém, a coisa ganha amplitude, é o bem coletivo que sofre dano, o erro deixa de ser meramente material para assumir proporção moral, ética, comportamental.
Exemplo de erro que resultou em relativo acerto: o ministro Pepe errou ao admitir à colega Rosilene Pozza que Dilma preencherá os postos públicos abertos com pessoas alinhadas com o governo, não com técnicos. A declaração de Pepe soou como erro ao governo, aos governos em geral. Pepe disse com todas as letras que a fisiologia determina quem comanda a máquina. Incrivelmente, para o lado de cá dos guichês a desconcertante confissão do ministro soa como acerto, pois sinceridade e transparência não são características marcantes da maioria dos políticos.
Opinião
Gilberto Blume: Transparência e sinceridade não são características marcantes da maioria dos políticos
Um pequeno desvio pode levar tudo a perder
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: