* Andrei Andrade (interino)
Já não me atormenta mais aquela frustração que até ontem atormentava, da sensação de que os caminhos da vida, estes que mais parecem nos escolher do que nós a eles, me obrigaram a deixar para trás amigos tão importantes. Quando flagrei o equívoco de ter no conceito de amizade uma relação de convívio obrigatório, fiquei feliz e aliviado.
Isso porque percebi, diante da solidão que sentia ao constatar que amigos íntimos de outrora tornavam-se estranhos pela ausência prolongada, que o erro sempre esteve no meu olhar julgador. De achar que não podia ter me ausentado tanto. Não foi para me livrar da culpa, mas passei a ver o convívio como parte muito pequena do que envolve ser e ter um amigo. De forma que a vida nos exige estar mudando sempre, de cidade, de emprego, de hábitos, é natural que todo movimento envolva pessoas. As que chegam e as que ficam onde não mais estamos.
Estamos sempre sujeitos a todo tipo de mudança de círculos sociais. Na adolescência, não desgrudamos dos amigos do futebol ou do videogame. Na faculdade, são os colegas de curso e de mesa de bar a quem dedicamos um tempo que bem poderia ser eterno, assim como os que depois passamos com os melhores colegas de trabalho. São fases que se encerram, mas que de forma alguma se apagam.
É quando o acaso nos dá a chance do reencontro com um velho amigo que percebemos que nada mudou. Que resistimos ao tempo e a distância e nada disso tornou menos importante aquela relação espontânea e desprovida de cobranças que é a amizade.
Ao reencontrar um velho amigo, abrace-o e celebre sem moderação. Não se deixe constranger por uma eventual aliança ou mesmo uma criança que surja chamando-o de "papai". Estarmos tão absortos em nossas próprias vidas é um erro, mas quem não o comete? Admita a culpa e absolva-se no tribunal da consciência, livrando também do julgamento todo amigo ausente que tu pensou em condenar.
Quem um dia foi importante em nossa trajetória, por nenhum motivo deixará de ser. É como uma piadinha que li esses dias. O aluno pergunta ao professor que uso fará da matemática na vida, e como resposta ouve que a usará na prova de matemática, que é uma parte da vida.
Não quero comparar amigos e provas de matemática, mas a ilustração é válida. Todo ciclo, por óbvio, tem início, meio e fim. De uma prova feita, passamos a estudar para a outra. Fica o que quisermos levar conosco. E isso vai sempre envolver pessoas que gostamos (e ser amigo nada mais é do que gostar). Mesmo que não as tenhamos no dia a dia.
* O colunista Gilberto Blume está em férias.
Opinião
Andrei Andrade: O convívio é parte muito pequena do que envolve ser e ter um amigo
É quando o acaso nos dá a chance do reencontro que percebemos que nada mudou
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