Pela janela da sala do pai, Itacir Boff consegue ver nos grandes cachos verdes o resultado de um ano de trabalho no parreiral. O problema é que mesmo com o início da colheita na próxima semana, ele ainda não conseguiu vender nenhuma caixa de uvas.
Sem telefone fixo há quase três meses, ele não consegue falar com os compradores. Nessa época no ano passado o viticultor já tinha vendido toda a safra. Com o telefone mudo, Boff estima que já perdeu entre R$ 30 e 40 mil em vendas.
- Como é que eu vou fazer negócios? Estou no prejuízo. Ligam para comprar uva e eu estou perdendo negócios - desabafa Boff.
Morador de São Martinho da 2ª Légua, Boff foi esta semana ao Procon solicitar medidas contra a Oi. O prazo para que a operadora conserte o telefone é de 15 dias, mas a família não cria muitas expectativas. Nos últimos meses foram cerca de duas ligações semanais para a operadora, sem que nada fosse resolvido.
Como não há sinal de celular na casa, para usar o telefone móvel é preciso caminhar cerca de um quilômetro até a parte superior de um morro. Por sorte ontem o telefone do seu pai, Pedro Boff, voltou a funcionar depois de três meses mudo. Segundo Itacir, a Oi afirma que o cabo de telefone que leva a linha até a sua casa está velho. No entanto, mesmo sem a família conseguir usar o serviço que contratou, continua pagando as faturas mensalmente.
- É uma vergonha e não é de agora. Nós temos gente há três meses sem telefone, em plena safra da uva, deixando de negociar. Não é só em alguns pontos. Em praticamente todo o município tem gente enfrentando dificuldades com o descaso da Oi - afirma o presidente do Sindicato Rural de Caxias, Rudimar Menegotto.
No ano passado, mais de 12,5% de todas as reclamações recebidas no Procon de Caxias do Sul foram por causa de problemas com telefone fixo. Problemas com operadoras de telefonia móvel corresponderam a 8,3% dos total de atendimentos do Procon. Isso que dados do IBGE mostram que apenas 39,2% da população tem telefone fixo contra 90,3% com celulares.
Em 2013 o Procon de Caxias recebeu 845 reclamações contra a Oi Telefonia Fixa e 115 contra a Oi Telefonia Móvel. No ano passado os números subiram para 1.022 e 121 respectivamente, o que corresponde a um aumento de quase 21% nas reclamações sobre telefonia fixa, contra apenas 5,3% na móvel.
O coordenador do Procon Caxias, Dagoberto Machado dos Santos, afirma que o investimento na rede de telefonia móvel foi ampliado no ano passado. Com as operadoras priorizando a instalação de antenas de celular, a telefonia fixa foi deixada em segundo plano.
No fim do ano, em uma resposta à grande quantidade de reclamações recebidas, o Procon se reuniu com a Oi para buscar uma solução. De acordo com Santos, a operadora se comprometeu a melhorar o atendimento aos clientes da rede fixa, trazendo mais uma equipe de técnicos para agilizar os atendimentos.
O Pioneiro entrou em contato com a Oi, mas ainda não recebeu retorno.
Negociação parada
Sem telefone, viticultores de Caxias não conseguem vender a safra
Às vésperas da colheita, demora no atendimento da Oi prejudica contato entre agricultores e compradores
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