Irma Overlock está absolutamente zonza no meio do vendaval que varre o país. A costureira, cuja esperteza política jamais pôde ser considerada privilegiada, emburrou de vez. Irma acompanha a Polícia Federal, o Ministério Público e um juiz empilhando evidências contra o bando que assaltou o país. Irma também acompanha a CPI do Congresso concluindo que não há evidências de que partidos e políticos estejam envolvidos no assalto.

Não tem jeito, a costureira não consegue compreender como uma investigação acusa e outra investigação inocenta:
- Alguma coisa não faz sentido nesse petrorroubo.
As amigas não se contêm, riem da tosca ingenuidade da costureira:
- Irma, querida, quando você vai compreender que os políticos e os partidos atuam em outra faixa, num canal paralelo à realidade? Eles não têm interesse algum em reconhecer suas irresponsabilidades. O comportamento dos políticos e dos partidos é tão dúbio que mesmo seus discursos moralizantes e éticos soam duvidosos, resultado de séculos de ações que visam primordialmente suprir interesses corporativos, pessoais, grupais e que raramente têm foco no povo, nas necessidades da nação, nos, nas.
A discurseira das amigas deixou Irma ainda mais zonza:
- Vocês parecem a Marina, a candidática programática: é só blábláblá!
Desentendida sobre o petrorroubo, a costureira trocou de canal para acompanhar o bafafá entre o Bolsonaro e a Maria do Rosário, o estuprador e a inestuprável.
Cidadã ativa, Irma enviou uma moção e uma mocinha à Câmara de Vereadores de Caixinhas apoiando os acalorados debates dos parlamentares a respeito de quem tem razão nesse perrengue em cartaz em Brasília.
- Alguém precisa colocar ordem na casa. Já se viu dois deputados debaterem intimidades em praça pública? Ainda bem que os vereadores de Caixinhas estão ocupados em colocar os pingos nos is e proporcionar que a política nacional retorne ao patamar que, por meros incidentes, vez em quando é abandonado.
- Tsc, tsc, tsc - resignam-se as amigas.