Ao meio-dia e quando anoitece, um morador do Desvio Blauth vai até a igreja, sobe no campanário e badala o sino. É o aviso de que está na hora do almoço e de que mais um dia chega ao fim. Os sinos também dobram quando há celebração religiosa ou quando alguém da comunidade morre. A tradição é cultivada pelos descendentes suíço-alemães devotos da Igreja Luterana Católica, em uma tradição mais que centenária. O Desvio Blauth é uma localidade de Farroupilha, cruzada pela VRS-313 e que liga o município a Garibaldi.
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O vilarejo toma forma, encorpa e se torna o primeiro roteiro turístico do interior de Farroupilha, lançado recentemente no Festival de Turismo de Gramado. O apelo turístico é focado na história do trecho. Poucos sabem, mas o Desvio Blauth era o primeiro destino dos veranistas no início do século passado. Em 2015 comemora-se 100 anos do início do veraneio. A saga começou por volta de 1915 e perdurou até 1938, segundo dados da Associação de Turismo da Serra Nordeste (Atuaserra). Surgiam, então, os veraneios Hampel e Blauth & Haupt, sobrenomes das famílias empreendedoras que começaram o negócio. O clima ameno e os atrativos estruturais, como campo de futebol, equitação, mesas de bilhar e pingue pongue ajudavam a propagandear o destino.
De acordo com o livro Trens e Turismo, escrito pelo professor e doutor em Sociologia Luiz Ernesto Brambatti, a propaganda mostrava que o lugar, 710 metros acima do nível do mar, com clima ameno e seco, tinha poder curativo. Mas o que era, de fato, um dos grandes chamarizes para atrair gente de de Porto Alegre, São Leopoldo, Montenegro e moradores da Serra eram os três lagos usados para natação e passeios de barco a remo. A água doce era vista como preciosidade por ali.
- O povo do Desvio Blauth tem qualidade de vida. Se vive bem por lá, e isso é herança dos veraneios. A filosofia de vida de quem mora ali é diferente, com conceito de tranquilidade. O lugar é místico - avalia a diretora executiva da Atuaserra, Beatriz Paulus.
Ainda que os três lagos sejam o que restou dos veraneios _ os chalés foram derrubados ao longo das décadas e os trilhos do trem que ligava a Serra, desativados _, os 14 empreendimentos credenciados ao roteiro são de proprietários com descendência Blauth e Haupt. Por isso, conhecem na ponta da língua as histórias dos verões de antigamente, trabalham com vontade de receber o visitante (inclusive nos fins de semana) e oferecem diferentes opções.
O passeio pode ser feito em até cinco quilômetros e inclui lagos, cascatas, pescaria e belas paisagens. Oito atrações ficam na irregular, porém asfaltada, VRS-313. Em uma tarde, é possível conhecer um pouco da história do lugar _ e ainda beber bons vinhos, lanchar comidas típicas e se distrair com um espaço que preserva o estilo Blauth de viver.
