O episódio da mãe que procurou a polícia porque uma professora advertiu a filha que não lera um livro recomendado em sala de aula é muito mais do que um episódio de uma mãe que procurou a polícia porque a professora advertiu a filha que.
Esse episódio aparentemente factual, pontual, traz embrulhados alguns dos principais aspectos que eventualmente travam a educação formal.
O Boletim de Ocorrência assinado pela mãe é o resumo do deprimente quadro educacional que estamos pintando e que ainda nem sabemos que cores finais terá. O episódio policial escancara a comunicação falha que atualmente cometemos, desnuda a incompreensão básica do papel dos pais, dos alunos, dos professores e da escola nesse complexo universo e culmina na pré-condenação de uma mãe.
Grosso modo e com algumas variações e exceções, a sinopse é esta: jovens com valores ainda em construção geram filhos. Precisando trabalhar, os pais não têm saída exceto entregar os filhos à escola (quanto mais cedo, melhor). Os governos são incapazes de oferecer escolinhas infantis e de tempo integral para abrigar todas as crianças. Os professores, mal pagos, são responsabilizados a proporcionar a educação formal e também a educação familiar que os jovens pais são incapazes de proporcionar. Climax a resolver: pais, alunos e professores vivem em permanente conflito porque uns são despreparados, uns são crianças e uns são mal pagos - todos desempenham papeis aquém das expectativas.
A sinopse acima é uma livre interpretação, portanto sujeita a correções de rumo, mas.
Mas escola não é depósito de crianças. As mães não deveriam viver em aflição porque não conseguem trabalhar fora porque não encontram vaga para o filho na escolinha.
Crianças não deveriam frequentar escolinha infantil para permitir que o pai e a mãe trabalhem, mas para que obtenham educação formal desde cedo. Mais, a escola infantil deveria ser opção, não uma imposição longe de se concretizar porque os governos não fazem sua parte.
Os pais deveriam poder escolher entre pôr ou não o filho na escola desde bebê. Essa escolha, naturalmente, pressupõe que as mães não precisem ou não queiram trabalhar ou que tenham alguma forma segura de manter os filhos em casa.
Como se disse acima, há ambientes escolares em que as coisas funcionam, mas os exemplos ruins saltam aos olhos e acabam pautando o debate.
Opinião
Gilberto Blume: É deprimente o quadro educacional que estamos pintando
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