A prefeitura de Caxias está com planos de asfaltar a Estrada Municipal Arziro Galafassi, mais conhecida como Estrada dos Romeiros, que leva ao Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio, em Farroupilha. O asfalto é reivindicação antiga tanto de quem mora na beira da estrada como de quem a utiliza com frequência para trabalhar. A queixa que prevalece é a de sempre: poeira insuportável em dias secos, barro quando chove. Mas há quem suporte essas inconveniências e acredite que o asfalto descaracterize a histórica romaria, que alcançou a 135ª edição neste ano e em breve deve se transformar em Patrimônio Cultural Imaterial de Caxias do Sul.
OPINE: Você é a favor do asfaltamento na Estrada dos Romeiros ou acredita que o asfalto vai descaracterizar a paisagem?
Há cerca de um mês, o prefeito Alceu Barbosa Velho, durante reunião com um grupo de moradores e empresários, disse que aguarda para os próximos 20 dias a liberação de recursos junto à Corporação Andina de Fomento (CAF) para a terceira etapa do Programa de Asfaltamento do Interior (PAI 3), que contemplaria a via. Alceu disse que na romaria de 2016 ele próprio percorreria o caminho sobre o asfalto. O movimento pró-asfalto é forte. Em 2013, um abaixo-assinado recolheu 4 mil assinaturas solicitando as obras. O trecho que cabe à prefeitura de Caxias é o da entrada da Estrada dos Romeiros pela da ERS-122, junto ao Km 71, até próximo à localidade de Nossa Senhora das Graças, já em Farroupilha. Dali adiante até o Santuário são mais quatro quilômetros sem asfalto. A prefeitura de Farroupilha tem intenção de asfaltar o trecho, mas o projeto ainda está em fase de levantamento de custos e nem se fala em previsão para a obra.
A paisagem ao longo dos 12 quilômetros da Estrada dos Romeiros é hoje muito diferente do que há 10 anos. Cenários bucólicos cederam espaço a empresas e a condomínios residenciais e industriais. Parece inevitável o avanço de novos pavilhões assim que o asfalto chegar por lá. E vice-versa.
- Estou me sentindo cercado, e assistindo a cada dia a depredação desta região. Escolhi morar aqui para ter um pouco de sossego, mas fiquei decepcionado com o que está acontecendo nos últimos anos - lamenta o psicólogo Dornelis Benato, 72 anos.
Benato morou por muitos anos na área central de São Paulo (SP) e em 2002 escolheu a Serra para buscar tranquilidade. Construiu uma casa de basalto na localidade de Capela São José, em Farroupilha. A propriedade está super valorizada em função da exploração imobiliária naquela região.
- Eu nunca pensei em valorizar meu imóvel. Não era isso o que eu queria. Só queria a tranquilidade de morar no campo, que em breve vou perder - diz, defendendo que o asfalto vai descaracterizar a histórica romaria.
Poeira, alergia e indignação
Estrada Municipal Arziro Galafassi, 912. Esse é o endereço do casal de empresários Everton Reolon, 31 anos, e Renata Bonotto, 29. Eles ergueram um pavilhão onde prestam serviços de metalurgia e corte para a indústria, e em um anexo do prédio fizeram sua moradia. Moram e trabalham às margens da estrada há quatro anos, mesmo tempo que estão reivindicando o asfalto.
- Nosso filho de três anos sofre muito com a poeira. Já tivemos de levá-lo ao médico várias vezes devido à alergia. Em dias secos, nossa roupa e nossa casa estão sempre empoeiradas - diz Renata, que há cerca de dois anos criou no Facebook a comunidade "Asfalto na Estrada dos Romeiros", temendo acidentes no trecho, que fica repleto de buracos em dias de chuva. A piscina da propriedade é o reflexo das queixas do casal. A borda está grossa de poeira, e água lembra um achocolatado.
- Eu sou devoto de Nossa Senhora de Caravaggio, participo anualmente da romaria, e não acredito que o asfaltamento vá descaracterizá-la. Precisamos pensar nos benefícios que o asfalto trará. Por exemplo, se um cadeirante quiser percorrer o trajeto, hoje ele não tem condições, mas poderia se tivesse asfalto - argumenta Reolon.
Caminho de Caravaggio
Trecho da Estrada dos Romeiros em Caxias do Sul pode ser asfaltado
Empresários e moradores reclamam da poeira e do barro no trecho
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