Há um ano, a Central da Paz Comunitária agrega pessoas dispostas a empregar bom senso e civilidade para encerrar brigas familiares, desavenças com vizinhos e outras situações que descambariam para crimes em Caxias do Sul.
O serviço mantido na Zona Norte com apoio da prefeitura, ONGs e lideranças de bairro se diferencia pelo firme propósito de estimular o cidadão a reconhecer, por conta própria, qual atitude pode devolver a tranquilidade nos lares e ruas.
Inserida em uma região onde moram cerca de 59 mil pessoas, a central já apaziguou 1.348 homens, mulheres, crianças e adolescentes envolvidos em algum tipo de conflito. Houve consenso e transformação de vidas. Sem esse suporte, a maioria dos casos provavelmente exigiria o trabalho de agentes da polícia ou da Justiça. Os resultados animadores reforçam que Caxias do Sul tem fôlego para ampliar esse modelo de pacificação para outros bairros da cidade.
O trabalho da central foi concebido em meio a um aparente descrédito. De início, poucos compreenderam porque reunir pessoas em uma sala seria suficiente para domar a violência. Susana Duarte, coordenadora da central, e equipe percorreram casas, visitaram entidades e gastaram horas de conversa para divulgar a proposta. O objetivo era estabelecer parcerias com todas ONGs da Zona Norte, meta alcançada parcialmente por conta da equipe reduzida e do fluxo cada maior de interessados.
Pelo serviço passam casos variados, o que evidencia o quanto os esforços são necessários para restaurar a boa convivência. A dona de casa Angélica Macedo da Silva, 31 anos, mãe de três filhos, recorreu aos facilitadores da Central da Paz porque tinha dificuldade de relacionamento com uma filha adolescente.
- Eu não sabia mais como lidar, o que fazer, não nos entendíamos mais, havia discussões intermináveis - lembra a mulher.
Ela estava perto de mergulhar em uma profunda depressão por conta da desavença familiar. Convidada a participar de um círculo restaurativo, Angélica questionou a alternativa, mas se convenceu ao ver os bons resultados obtidos com a filha Keize, 11, frequentadora de encontros em uma entidade assistencial.
- Antes eu só deixava as coisas acontecerem. Daí vi que eu deveria intervir, lutar pela mudança. Se um pai não der atenção, o filho vai buscar a rua. Me sinto mais aliviada, com menos peso nas costas - diz Angélica, que comemora a volta do diálogo com a filha mais velha e com Keize.
Parte do bom desempenho da central vem da excelente relação da equipe e da proximidade com os moradores. Uma das facilitadoras é a professora Marien Regina Andreazza, amiga de longa data de Susana Duarte. As duas conhecem a realidade de bairros como Santa Fé, Belo Horizonte ou Vila Ipê pois atuam ali desde o início dos anos 1990. O grupo é formado também pela facilitadora Denise Laim e pela assistente Raque Cacequi. Eventualmente, o trabalho tem apoio de um voluntário.
- Precisamos de alguém com formação nos métodos da Justiça Restaurativa, mas é preciso ter perfil para atuar na Zona Norte - reforça Marien.
Os organizadores lembram que os reflexos na segurança da Zona Norte só poderão ser medidos em alguns anos. Até lá, o desejo dos profissionais é pra lá de ambicioso: fazer com que a comunidade conquiste a autonomia e semeie a cultura de paz. É algo desafiante, mas não impossível.
- Quem sabe então levaríamos a central para outra região da cidade - sonha Susana.
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Comunidade
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