Para embarcar em um ônibus, as irmãs Natasha, 22 anos, e Natiele Souza Toledo, 20, precisam contar com a ajuda de outras pessoas para a indicação das linhas. Por causa do glaucoma, perderam a visão ainda na adolescência. Se adaptaram, desenvolveram outros sentidos para as tarefas do dia a dia. Mas utilizar o transporte público ainda é sinônimo de dependência.
- Uma vez estávamos no centro e pedimos para a pessoa indicar a linha Jardim da Lagoa. Ela se confundiu, indicou outra e fomos parar quase em Ana Rech. Descemos na BR-116. Uma senhora viu que estávamos perdidas e queria nos levar à polícia. Por fim, ela nos ajudou a atravessar a estrada até outra parada. Tivemos que voltar ao Centro para pegar o ônibus correto - conta Natasha.
Esta é uma das histórias das irmãs. É comum encontrar pessoas que deixam claro o desconforto em ajudar ou que esquecem de informar a linha solicitada pela deficiente visual.
- Algumas pessoas têm medo, acham que queremos dinheiro. Certo dia, eu pedi para uma moça indicar o ônibus do Panazzolo. Ela respondeu que não tinha dinheiro. Eu insisti, disse que não queria dinheiro, só precisava de uma indicação, mas ela só repetia isso, que não tinha dinheiro. Foi bem ruim. Não precisava passar por isso - lembra Natiele.
Em tempos de implantação do Sistema Integrado de Mobilidade, o SIM Caxias, um abaixo-assinado e dois projetos que tramitam na Câmara de Vereadores mostram que resolver os problemas no sistema viário da cidade não é o único ponto em que Caxias precisa avançar.
As dificuldades enfrentadas pelos deficientes visuais no uso do transporte coletivo e na locomoção sinalizam o quanto a cidade precisa progredir no âmbito da inclusão. Caxias conta apenas com duas sinaleiras sonoras, uma na Rua Luiz Antunes (em frente à Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Visuais - Apadev, no bairro Panazzolo) e outra na Rua Moreira César (em frente à Secretaria de Trânsito, no Pio X).
Motivada pelo trabalho junto ao Programa de Integração e Mediação do Acadêmico da
UCS (Pima) e ao Instituto da Audiovisão (Inav), a aluna Glenda Lisa Stimamiglio iniciou um abaixo-assinado para a implantação em Caxias do Sul do DPS 2000, um sistema de sinalização sonora de embarque em ônibus para deficientes visuais.
O DPS 2000 já foi implantado em algumas cidades de São Paulo, como Guarulhos, e está em testes em Porto Alegre. Na internet, o abaixo assinado tem mais de um mil assinaturas. A indicação foi levada pelo verador Rafael Bueno (PC do B) à prefeitura.
- É uma forma de fazer com a sociedade discuta o assunto, um movimento para dizer "olhem para nós" - justifica Glenda.
Inspirado no DPS 2000, tramita na Câmara um projeto para a atualização de um sistema operacional já utilizado pela frota de transporte coletivo de Caxias. O deficiente visual acionaria a linha por meio de um aplicativo no celular.
- O sistema Multiplex foi desenvolvido por uma empresa de Caxias. Bastaria a atualização e criação do aplicativo _ acredita o vereador Neri Andrade Pereira Júnior (SDD), que o protocolou.
O vereador Daniel Guerra (PRB) é autor de um projeto para a instalação de placas informativas em braile nos pontos de ônibus, com a indicação do número das linhas, a exemplo de cidades como Cuiabá (MG) e Londrina (PR).
Por enquanto, o que há de concreto é o mapeamento da Coordenadoria de Acessibilidade de pontos para a instalação de semáforos sonoros pela Secretaria de Trânsito. A promessa do secretário da pasta vai além. Mesmo sem saber os custos para a implantação, Manoel Marrachinho garante que as duas estações de transbordo do SIM Caxias conterão algum dispositivo de tecnologia sonora para deficientes visuais.
- Há vários desses dispositivos no mercado e nem todas estão bem consolidadas. A implantação na cidade será progressiva.
Inclusão
Projetos incentivam implantação de sistemas sonoros para deficientes visuais no transporte coletivo de Caxias
Dois tramitam na câmara de vereadores e um abaixo-assinado foi organizado por estudante
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