Por muito tempo considerados sinônimos de distração e indisciplina em sala de aula, os telefones celulares estão ganhando utilidade bem mais nobre nas escolas. Iniciativas desenvolvidas em várias instituições da Serra Gaúcha demonstram que os aparelhos podem, sim, ajudar no processo de aprendizagem.
Um desses exemplos vem de Bom Princípio. Professor de ciências e matemática há 38 anos, José Ricardo Ledur começou a utilizar o celular nas aulas de física na Escola Pio XII, dentro do estudo do movimento. Com a ajuda de fotos em sequência feitas com o aparelho, os estudantes conseguem analisar as posições sucessivas do objeto (uma bolinha, por exemplo), conseguindo obter dados para calcular grandezas como velocidade e aceleração.
Conforme o professor, a indicação sobre o uso do celular em sala de aula veio por meio de uma pesquisa de opinião, realizada em 2012. Foram realizadas entrevistas com alunos, direção e professores de duas escolas sobre o uso do equipamento, a possibilidade de utilização didática e funcionalidades.
- O celular é uma ferramenta que para eles têm grande importância. Por isso, se sentem muito motivados quando podem utilizá-la - destaca Ledur.
Em Caxias do Sul, o professor Sandro Prass, que leciona física para o ensino médio no Colégio Murialdo, em Caxias do Sul, e no Colégio Regina Coeli, em Veranópolis, já faz uso do celular há algum tempo. Pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e mestrando em Ensino de Ciências e Matemática pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), ele utiliza smartphones e tablets na construção de experimentos que até algum tempo era inimagináveis de criar em sala de aula. Com ajuda de dois aplicativos - um para emitir um som em uma frequência conhecida (Tuning Fork) e outro para medir a intensidade sonora (Decibelímetro), os estudantes conseguem determinar o comprimento de onda e da velocidade do som.
- A ideia de usar esse recurso surgiu da necessidade de fazer uma aula diferente, que chamasse a atenção dos alunos. Além disso, com esses aplicativos conseguimos recursos, como o decibelímetro, por exemplo, que muitas escolas não têm condições de comprar. Os celulares e tablets são ferramentas que os alunos dominam. Então por que não utilizá-los para prender sua atenção e tornar a aula mais significativa? -destaca Prass, professor há 24 anos.
Para incrementar as aulas no clube de ciências, a professora Daiana Pellenz, do Colégio Estadual Imigrante, faz uso do aplicativo Sky Map para os conteúdos de astronomia.
- Usamos para encontrar constelações e planetas e guiar os alunos nas observações noturnas - explica.
Para Daiane, os professores precisam se adaptar aos novos tempos, usando a tecnologia a seu favor e proporcionando uma aprendizagem mais significativa. Mesmo assim, Daiana diz que ainda há muita resistência por parte dos professores em usar esses recursos, principalmente por falta de conhecimento e domínio da tecnologia.
O professor Sandro Prass acredita que a mudança desse quadro passa também por melhorar a estrutura dos cursos de graduação e formação de novos professores, afinal são eles que dentro em breve irão ocupar as salas de aulas.
- A minha melhor aula de hoje não vai ser a melhor no ano que vem. As coisas mudam, o aluno muda, mas muitas vezes o professor segue o mesmo - critica.
A titular da 4ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Cleudete Piccoli, diz que há um longo caminho a percorrer, já que a maioria dos jovens ainda os utiliza de forma desrespeitosa, acessando redes sociais e atrapalhando o andamento das aulas, ou de forma lesiva, colando em provas ou gravando e distribuindo vídeos impróprios.
Cleudete acredita que os aparelhos possam ser usados com finalidade educativa desde que exista uma preparação dos professores. Para isso, no entanto, é necessário um trabalho efetivo junto aos docentes a fim de orientá-los para as possibilidades de utilização com fins didáticos.
Educação
Professores da Serra Gaúcha apostam nos celulares para aula mais criativa
Aplicativos ajudam a montar experiências em sala de aula e a tornar aprendizado mais siginificatico, afirmam docentes
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