Os aterros irregulares da construção civil são chamariz para vetores de doenças, prejudicam o meio ambiente e entopem bueiros e tubulações em Caxias do Sul. Além disso, o custo para recuperar áreas afetadas é altíssimo. A dúvida é saber quem será responsabilizado pelos danos.
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Nos últimos dois anos, a promotora de Justiça Janaína de Carli ingressou com ações exigindo projeto de reparação de duas ou três áreas atingidas pelos descarte ilegal. Os processos apontam donos de terrenos e empresas coletoras dos resíduos, mas não há decisão.
Um desses locais clandestinos foi forjado em São Luiz da 6ª Légua, no interior de Caxias do Sul. Durante anos, centenas de caminhões lançaram material sem triagem em terreno particular. De tão compactado pelo peso de caçambas e retroescavadeiras, é difícil identificar onde termina o aterro e começa o solo original. A interdição ocorreu na metade de 2013, mas não há barreiras para impedir o descarte ocasional.
Do outro lado de Caxias, os entulhos serpenteiam os limites de dois parques naturais no caminho para o loteamento Mariani. Ali também não nada para impedir ações em pleno dia. Os dejetos despencam sobre um córrego mato adentro.
Embora os coletores de entulhos afirmem que os depósitos são apenas para materiais inertes (tijolos, cimento ou terra) fica evidente a falta de processos eficientes de separação. A convite do Pioneiro, o biólogo Otávio Valente Ruivo visitou alguns desses aterros e encontrou resíduos contaminantes com origem no petróleo tais como tintas, plásticos, polímeros e combustíveis, além de amianto. Os poluentes acompanharão famílias do entorno por décadas porque a decomposição desses produtos leva centenas ou milhares de anos.
- Esse processo consiste na quebra desses materiais em partes menores, o que não corta suas condições muito poluentes. Há a interação com o meio ambiente, com o ecossistema, sendo levados de um local para outro através da chuva para arroios e rios. Mas esses materiais nocivos à vida permanecem décadas ou mais no mesmo ponto ou região onde foram depositados - alerta Ruivo.
As consequências do descarte descontrolado são apontadas como um grave problema pela Diretora do Instituto de Saneamento Ambiental (ISAM) da Universidade de Caxias do Sul, Vania Schneider. Sob sua orientação, pesquisadores e parceiros já desenvolveram diversos trabalhos com sugestões para solucionar o impasse no descarte. Tudo ficou na intenção.
A professora e arquiteta da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG), Daniela Fastofski, reforça que o diferencial no mercado são os empreendimentos voltados para minimizar o descarte por meio de projeto de gerenciamento de resíduos. A docente pesquisa o assunto para uma tese de qualificação de mestrado com foco na aplicação de certificações ambientais em obras habitacionais.
- Algumas empresas se mostram interessadas em obter a certificação caso as adaptações se mostrem viáveis economicamente e possam ser enquadradas nos procedimentos usuais. Mas ainda restam dúvidas de como proceder em relação a alguns resíduos, mesmo porque o próprio poder público não fornece esclarecimentos - cita a professora.
Desafio à lei
Aterros irregulares em Caxias do Sul prejudicam meio ambiente e atraem vetores de doenças, segundo especialistas
Volume de material contaminado indica que a triagem é ineficiente
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