O vendedor envolvido na perseguição que resultou em duas mortes em Bento Gonçalves, na madrugada de domingo, conversou com o Pioneiro nesta segunda-feira. Tiago de Paula, 18 anos, conduzia uma Fiorino onde estavam Anderson Styburski, 16, Danúbio Cruz da Costa, 20, e um adolescente de 15 anos. Com medo de ser multado por levar pessoas no baú do veículo, o rapaz escapou da abordagem dos policiais militares Edegar Júnior Oliveira Rodrigues, 29 anos, e Neilor dos Santos Lopes, 23.
A perseguição se estendeu por diversas ruas e resultou na morte de Anderson e Danúbio. Em depoimento na Polícia Civil, os PMs garantem que ocupantes da Fiorino atiraram contra eles e, por esse motivo, revidaram os disparos. Essa versão é contestada por Tiago, ferido de raspão na orelha.
Para ele, as mortes poderiam ter sido evitadas. Tiago também nega que ele ou os outros passageiros do veículo estavam armados como sustentam os brigadianos. Peritos apreenderam um revólver calibre 38 dentro da Fiorino. A arma está registrada no nome de um homem ainda não localizado pela Polícia Civil.
Pioneiro: A polícia disse que encontrou a arma debaixo de uma mochila.
Tiago: A mochila é do piá, do Anderson. O Danúbio desceu de peito limpo, de moto, como é que ele ia ter arma? E o piá de 16 anos (Anderson) não ia ter um 38 no bolso. Como é que o piá (Anderson) que não tem nem moto, nem carro, ia comprar uma arma. Pra quê? Eu falei para o brigadiano lá na delegacia: como é que foi nós que atiramos? Com a fiorino balançando, eles não iam mirar aqui e acertar em mim e no piá da frente? O para-brisa nem quebrou. Ele dizia: foi vocês sim. E começaram a dar chute e queriam saber da arma. E por que os dois brigadianos que atiraram em nós não foram junto para delegacia? Foi um outro, porque eles estavam esperando para plantar aquela arma.
Pioneiro: Os policiais mexeram na Fiorino antes da perícia?
Tiago: Um deles perguntou pela arma e mandei ele procurar na Fiorino se tivesse, mas ele não achou. Eles plantaram aquela arma. Quando eu abri a tampa da Fiorino, os dois estavam junto com as coisas em cima ali. Quando chegou a perícia e me levaram no Samu, estava tudo no chão e as pernas dos piá para fora. Eles (policiais militares) pegaram e mexeram nos piás dentro da Fiorino, mexeram neles.
Pioneiro: Disseram que vocês estavam atirando bombinhas antes da abordagem.
Tiago: A gente tinha bombinha mas lá embaixo, no sítio, no rio. Tínhamos seis bombinhas, estouramos lá. Estávamos acampados. Só que não tinha lugar para nós dormir e viemos embora.
Pioneiro: a Fiorino era emprestada?
Tiago: Era emprestada.
Pioneiro: O dono sabia que tu estava com o veículo?
Tiago: sim.
Pioneiro: você tinha bebido?
Tiago: um pouco, mas estava consciente do que eu fazia. Tinha medo de parar. É que eu tô na provisória (carteira de habilitação).