Natural de Santa Maria, Tiago Fiamenghi, 29 anos, é designer gráfico e atento observador da identidade visual de Caxias do Sul. Idealizador da comunidade Limpa Caxias, no Facebook, ele defende o menos é mais na publicidade das ruas e encampou um movimento que vem crescendo diariamente.
Como surgiu a ideia da página?
A poluição visual é um tema que me chama a atenção há tempos. Costumava, em minha andanças pela cidade, fotografar fachadas que me chamassem a atenção (positivamente ou não). A ideia surgiu quando a lei (que prevê a regulamentação da comunicação externa) foi aprovada, na metade do ano passado. Foi em uma caminhada pelo centro, observando alguns prédios e fachadas que pensei "bah, a Caxias como hoje vemos jamais será vista novamente." Aí surgiu a ideia de catalogar imagens atuais da cidade, para fazer um comparativo de antes e depois. Pensando que esse acervo poderia servir como um case para outras cidades, inclusive com depoimentos de profissionais de outras áreas, como a da saúde. Mostrar para as pessoas como essa poluição, até então silenciosa e indireta, afeta o nosso dia a dia.
Qual prédio ou construção mais chama sua atenção na área central?
Existem vários, mas destaco o prédio do Juvenil, O prédio da família Saldanha, o prédio da Secretaria Municipal da Cultura, na estação férrea, além dos que acabei descobrindo por meio de relatos publicados no Limpa Caxias. Principalmente, o prédio do Auto Palácio (antigo Mario de Boni), cuja história eu desconhecia totalmente.
Atuando como designer gráfico e criador, você sente a necessidade de propagar a cultura do menos é mais na publicidade?
Não só sinto tal necessidade como a exerço, não só em nosso escritório, mas no meu estilo de vida. Talvez por falta de instrução, muitos se utilizam de uma comunicação extremamente carregada e, em alguns casos, espalhafatosa. Considero uma boa mensagem aquela que consegue comunicar algo de forma objetiva e rápida. E não se trata apenas de uma questão estética, é uma questão de funcionalidade. Acreditar que quanto maior minha placa, maior a chance das pessoas entenderem a mensagem é um erro tolo. Na maioria dos casos, uma simples análise ergonômica derruba essa "estratégia".
Você se impressionou com a grande quantidade de posts e colaborações dos curtidores da página?
Desde o início acreditei na ideia. Acreditava que haveria seguidores da causa, mas confesso que a velocidade que isso ocorreu me surpreendeu, sim. Ao analisar o projeto "Quero Ver Porto Alegre", que em pouco mais de um anos atingiu 300 curtidores no Facebook, vejo que o Limpa Caxias cativou os caxienses. Em uma semana passamos a marca de 1 mil curtidores. O público vestiu a camisa da causa, enviando imagens, histórias, compartilhando, curtindo, interagindo entre si.... Recebo diariamente diversas mensagens de pessoas enviando fotos, parabenizando a causa e se colocando à disposição para fortalecer ainda mais o projeto. Vejo que muitos não tinham a noção da história que se esconde sob fachadas e painéis abusivos. É muito legal ler o relato de pessoas que viveram em Caxias nas décadas de 1960, 1970 e que resgataram lembranças em função da página. O povo percebeu que se nós não lutarmos pela causa, aos poucos a história de Caxias vai sumir e levar junto nossas lembranças. A população quer, sim, uma cidade mais limpa, e o Limpa Caxias está servindo de "megafone" desse desejo. Vão nos ouvir!
No quesito poluição visual, Caxias é um cidade com pouca, média ou alta intereferência publicitária nas ruas?
Acredito que Caxias está no limite de média pra alta. Afinal, até então não havia qualquer tipo de regulamentação nesse tipo de comunicação. Sugiro ao leitor que chegue na praça Dante Alighieri e olhe para a Avenida Julio de Castilhos. É impossível alguém não se sentir mal com o que vai enxergar. A poluição visual ultrapassa a questão estética. Psicólogos afirmam que ela afeta a saúde mental dos indivíduos, uma vez que somos sobrecarregados de informações desnecessárias.
Que cidades serviriam de exemplo para Caxias se tornar mais limpa?
Vim para Caxias em 1988. Lembro de ter ido com o meu pai no Cine Ópera, e aquilo foi mágico pra mim! Sou cidadão caxiense por opção e hoje me sinto com o direito de cobrar por aquilo que não julgo certo. São Paulo é o exemplo mais radical e recente que temos. Um seguidor da página mandou outras cidades que também limparam o seu visual, inclusive a questão de fios e postes elétricos: Gênova (Itália), Berlin (Alemanha) e Los Angeles (EUA).
Poluição visual
O que pensa o idealizador da comunidade Limpa Caxias, no Facebook
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Rodrigo Lopes
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