Ninguém foi mais criticado no Estádio Centenário do que Paulo César Santos. Presidente por três anos, ele assumiu como vice de futebol nesta temporada. O dirigente resistiu a dura derrota em Natal-RN, diante do América, no ano passado. Foi dele a voz mais forte do vestiário do Caxias na Arena das Dunas. E também foi do dirigente o desabafo no Estádio Luso-Brasileiro, no Rio de Janeiro, após o acesso à Série C do Brasileiro diante da Portuguesa.
Símbolo da resiliência Grená, Paulo César passou por momentos difíceis. Em entrevista ao programa Show dos Esportes, da Rádio Gaúcha Serra, após a consagração, o vice abriu o seu coração. Ao longo dos períodos de turbulência, o dirigente foi ofendido por muitos, mas jamais rebateu na mesma moeda e sofreu calado. Contudo, viu a sua família chorar com as duras críticas de alguns torcedores nas redes sociais.
— Eu não sou muito de olhar redes sociais, realmente a minha família sentiu mais. Minha esposa e minha filha sentiram bastante. Não foi uma vez que encontrei elas abaladas ou chorando pelo que estavam dizendo nas redes. Isso doí muito — declarou o dirigente.
Paulo César resistiu a noite da revolta no Estádio Centenário, a derrota para o Hercílio Luz por 1 a 0. O jogo foi em uma segunda-feira, após a CBF solicitar a casa Grená para uma partida do Campeonato Brasileiro Feminino. O dirigente revelou uma conversa com presidente Mário Werlang com o intuito de deixar o cargo.
— Quero dizer em primeira mão para vocês que eu coloquei o cargo à disposição ao presidente Mário depois do jogo contra o Hercílio. As críticas foram pesadas pessoalmente, levei cusparada, fui ofendido. Deixei de andar dentro do campo para não levar esse peso ao elenco. Eu dava a volta por trás, no estacionamento. Sempre fui ao vestiário. Abdiquei de ir pelo campo para preservar o elenco. Eu não me escondo, não tenho vergonha, faço tudo com honestidade. Isso doeu bastante, pois é muita dedicação que a gente faz. Falei para o Mário para sair e ele foi enfático ao dizer: "Se o Paulo César sair eu saio junto e tenho certeza que se eu sair o Paulo César sai junto".
PEDIDO DE DESCULPAS E "ENTREGA"
Nos últimos meses, o vice de futebol evitou entrevistas. A última coletiva do dirigente foi no anúncio de demissão do técnico Tcheco, no dia 19 de junho. Desde então, ele saiu dos holofotes. Alvo principal de parte da torcida, foi uma forma de preservar o dirigente. Ao longo da entrevista no Show dos Esportes, Paulo César foi surpreendido com um pedido de desculpas de um torcedor.
— Quando a gente pede desculpas faz mais bem a nós a quem recebe. Reconhecer o erro e pedir desculpas é extremamente importante, pois é um sinal de crescimento pessoal.
Em 2022, o Caxias venceu o União Frederiquense por 3 a 0 pelo Campeonato Gaúcho. O jogo ganhou uma atenção especial na última rodada, pois em caso de derrota, o Grená rebaixaria o maior rival para a Divisão de Acesso. Porém, o clube ficaria sem vaga na Série D deste ano e o sonho do acesso seguiria apenas no imaginário do torcedor.
— Tenho na minha lembrança algumas pessoas que vieram em direção ao camarote me xingando por não ter entregue aquele jogo para rebaixar o Juventude. Então, no domingo, vi as mesmas pessoas correndo atrás da nossa carreata, festejando e até alguns me abraçando, que me xingaram bastante. Estamos alguns anos fazendo a coisa certa — finalizou.
PRINCIPAIS PONTOS DA ENTREVISTA
:: ACESSO
— Foi algo que sempre trabalhamos muito dentro do vestiário, sempre pensando nesta colocação. Nós merecíamos e íamos conquistar o acesso, que dentro destes 88 anos o Caxias não teve no cenário do futebol nacional. É um trabalho de quatro anos. São três anos como presidente e vice de futebol com presidente Mário. É um trabalho incansável que todos nós grenás somos merecedores.
:: SÉRIE C
— A Série C é uma competição mais equilibrada, uma estrutura mais equilibrada e o Caxias tinha que voltar rapidamente. Temos que seguir sonhando, buscar um patamar maior que é pelo menos a Série B e estruturar o clube em todos os sentimentos.
:: ELENCO 2024
— A gente já está trabalhando nessa situação, pois envolve contratos, renovações. Mas isso é um trabalho que vamos deixar para depois da comemoração do título da Série D, que é a última que o Caxias vai jogar.
:: RENOVAÇÃO COM ERON
— Para nós é extremamente importante que ele permaneça. Ele nos abriu neste ano ainda que podia ter saído. Pela estrutura que foi dada, pelo vestiário que temos, ele preferiu não sair até por uma proposta financeira melhor. Comprou a ideia. Estamos em uma família e disse que não podia abandonar a família O Caxias fez um esforço para trazer ele. O pai dele estava passando por uma situação de saúde e precisava de um apoio e o Caxias deixou ele ficar mais uns dias com pai dele e demos o apoio. Ele deu valor ao que o Caxias fez.
:: BUSCA PELO TÍTULO
— É voltar ao trabalho, estar bem fisicamente, foco total. Acabou! Queremos continuar festejando com mais uma classificação no domingo e depois buscar o nosso título e a estrela. Depois está tudo liberado. Precisamos de você torcedor, que abrace o clube, como fomos abraçados na chegada em Caxias do Sul. É a hora de nos unir ao máximo. Colocamos o avião para cima e é só subir.