A temporada de 2018 não está sendo nada fácil para o Juventude e a missão até o final da Série B será a fuga do rebaixamento. Nessa luta, mesmo com todos os contratempos que se apresentam dentro e fora de campo, direção, comissão técnica e jogadores parecem estar no momento de maior união para não haver o reencontro com a Terceira Divisão.
Prova disso foi a ida do presidente Roberto Tonietto ao vestiário no sábado passado, antes do treinamento, às vésperas do time encarar o Atlético-GO, fora de casa.
Sem gritos, xingamentos ou ofensas, o mandatário alviverde passou confiança aos jogadores. A vitória veio após um jejum de 10 jogos, e os atletas reconheceram a importância da presença do dirigente no vestiário.
Em um ano onde o mercado se apresentou também rigoroso com o empresário, Tonietto não esperava as dificuldades que o clube enfrentou. Apesar disso, o dirigente se mostra confiante de que o Ju vai se livrar do risco de rebaixamento.
Tonietto falou ao Pioneiro sobre os erros da direção neste ano, e de como acredita no time, na comissão técnica e no departamento de futebol alviverde para cumprir a missão de manter o clube no caminho do crescimento em sua gestão.
Momento delicado na B
– É o momento mais difícil desde que estamos na Série B. Ano passado tivemos 38 rodadas bem longe da zona do rebaixamento. Esse ano montamos um time para brigar. Não temos condições de fazer todo o investimento para lutar pelo G-4, mas o objetivo era da metade para cima da tabela.
Não esperávamos essa queda. Quando entramos na zona do rebaixamento, pela minha avaliação, o grupo sentiu o golpe. Daí tivemos duas derrotas em casa, que abalaram ainda mais o grupo.
Recuperação
– Dá para reagir. A vitória da terça-feira mostrou isso. Teve determinação e garra. O que temos que retomar é o fator Jaconi. Temos seis jogos em casa e, se conseguirmos retomar esse fator, tenho plena convicção que vamos sair dessa situação incômoda.
Futebol e orçamento
– O futebol em qualquer clube, não só no Juventude, corresponde a mais de 90% do orçamento. Estamos acertando muitas contas atrasadas. Quando assumimos, tínhamos mais de 100 reclamatórias trabalhistas. Hoje estamos com três ou quatro.
O clube não tem condição plena de investimento. Por isso penso que se ficarmos na B, e vamos ficar, em mais dois ou três anos conseguiremos investir no futebol para tentar algo a mais. Agora não é momento de fazer loucuras e prejudicar o clube ali na frente. Seria um retrocesso.
Contato com os jogadores
– Estive no vestiário no sábado, em uma conversa bem aberta com os atletas. Bastante franca. Quando pedi para juntar o grupo no vestiário, acho que todos imaginaram que eu ia chegar lá fazendo cobranças e chutando o balde. E isso não é do meu feitio. Fomos lá dar tranquilidade para eles. Naquele momento, o que achávamos que estava faltando para o grupo era isso.
Jogamos bem algumas partidas, tomamos gols bobos, deixamos de fazer gols que não tem explicação. Esse grupo de fatores nos levou lá para baixo. Foi importante falar para eles que ainda tinha tempo para reverter e que não estava impossível, como eles estavam achando.
Com certeza não foi só isso que deu resultado, houve uma entrega muito grande e o grupo está fechadíssimo.
Torcida na reta final
– A torcida reclamou bastante esse ano. E com razão. O Juventude, em nenhum momento, apresentou um futebol convincente. Mas, nesses próximos seis jogos, temos que fazer voltar o fator Jaconi. É muito importante que a torcida abrace o time.
Se conseguirmos fazer isso tenho certeza que sairemos dessa situação desconfortável. É o momento de apoiar. Depois que acabar o campeonato vamos fazer uma reflexão grande de onde erramos para que isso não aconteça mais para frente.
2016 x 2018
– A parte mais difícil do início da nossa gestão foi a financeira. Estávamos com salários atrasados, receitas todas adiantadas. Financeiramente aquele ano foi muito difícil. O bom daquele ano foi que o futebol deu resultado.
As mesmas pessoas que estão no futebol hoje, estavam lá atrás e deram resultados. Lá, o futebol que manteve o clube. Ano passado foi um ano tranquilo. Sem problemas financeiramente e o futebol com um Gauchão ruim, mas nem perto do que foi esse ano, e uma Série B sem sofrer sustos, e que chegamos a sonhar com acesso.
Em 2018, está sendo o ano mais difícil. Alguns erros aconteceram. Temos que ser humildes em admitir isso. Mas não é hora de achar culpados. É o momento de correr atrás do que a gente quer. Financeiramente também. Receitas que a gente imaginava que o futebol iria nos trazer, não está trazendo, como na venda de atletas.
Temor da queda
– O Juventude entrou na zona do rebaixamento faltando 13 ou 14 rodadas antes de terminar o campeonato. Existe no Juventude, tanto de direção, quanto de atletas, funcionários e torcida, um trauma de Série C e Série D. Passamos anos infernais lá. Todo mundo sentiu e ninguém quer mais nem pensar nisso. Existe esse trauma.
Acho que essa preocupação, muita gente jogando a toalha, foi prematura. Isso aconteceu na torcida, que deu uma esmorecida, no vestiário, e por isso fui lá. Temos tudo para retomar. Faltam 10 rodadas ainda.
Biglia e Flávio
– Essa direção de futebol que está sendo criticada hoje, e às vezes com razão, foi a mesma que dois anos atrás, em 2016, com pouquíssimo dinheiro, conseguiu fazer um time que subiu para a Série B, foi vice-campeão gaúcho e chegou nas quartas de final da Copa do Brasil.
São pessoas da minha confiança. Todos do futebol, Jones Biglia, Max Nora e Flávio Campos, se doam demais pelo clube, são pessoas corretas e trabalhadoras, que estão fazendo de tudo para o Juventude crescer.
Tenho certeza que é um grande aprendizado para eles. As críticas têm que ser para o presidente também. Afinal, tivemos erros neste ano, senão não estaríamos nessa situação delicada na competição.
Reflexo do Gauchão
– (O início de 2018) Atrapalhou. Ano passado foi um risco calculado para fazer um investimento maior no segundo semestre. Neste ano, mudamos um pouco a estratégia. Investimos mais linear Estadual e Série B. E tivemos um erro muito grande no Gauchão que foi a preparação física. Esse foi o grande ponto que nos pegou. Ainda estamos pagando até agora. Fizemos a mudança, mas quando começa mal, até se arruma, mas não se conserta tudo.
Cobranças pessoais
— A cobrança é normal. A pressão também. Dentro do respeito, isso é normal. O que não concordei foi quando um grupo de torcedores estava se organizando para fazer um protesto na frente da minha casa. Acho que isso era desnecessário. Sou muito aberto para conversar com a torcida. Mas acho que minha casa não é local para fazer protesto. O que a minha filha de cinco anos tem a ver com o mau futebol apresentado pelo Juventude? Mas isso passou, o pessoal repensou e passou tranquilo.
Fogo amigo
— Dentro do clube sempre tem. Te digo que 99% das pessoas apoiam. Mas sempre tem os que partem para uma crítica não construtiva. Mas quando o clube precisa dessas pessoas, elas desaparecem ou ficam quietas.
Quando alguém tem coragem de assumir, eles aparecem de novo para criticar. Sei que faz parte. Mas lembro de uma frase do ex-presidente do Caxias Osvaldo Voges: “Quando o tiro vem do inimigo, a gente está preparado. Mas quando é fogo amigo, pelas costas, aí é mais difícil de engolir”.
Por que acreditar?
— Não dá para garantir que não vai cair. Não sou louco de dizer que time grande não cai, como se ouviu por aí. Se não fizer as coisas certas, cai. Mas tenho convicção que nosso grupo de jogadores não é para cair. Essa comissão técnica também não é para isso. Na hora da decisão, nossa camisa sempre pesa.
Por isso tudo, acho que o Juventude não cai. E pela nossa torcida. Com a torcida apoiando e enchendo o Jaconi, é uma condição diferenciada para não cairmos. Vamos dar a volta.
A vitória de terça foi fundamental. Ganhar de um time do G-4, com toda pressão que estava, foi uma demonstração de que podemos fazer.