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Dentre os campões olímpicos, a história da judoca Rafaela Silva segue alguns roteiros muito conhecidos dos vencedores no esporte brasileiro. Menina pobre, nascida em uma favela do Rio de Janeiro e que precisar superar muitos obstáculos para estar entre os melhores. Após os Jogos de 2012, a campeã olímpica pensou em desistir. A eliminação trouxe duras críticas e atos de racismo. Mas ela deu a volta por cima e, na sua terra natal, chegou ao ouro. Uma história que ganhou ampla repercussão após a conquista e que inspira os jovens praticantes do judô pelo país. Não seria diferente em Caxias do Sul.
– Eu comecei a pular na sala da minha casa quando eu vi que a Rafaela era campeã. Uma alegria muito grande – destaca Eduardo Xavier Correa, 13 anos.
A conquista da carioca é um exemplo para os alunos de judô do Projeto Educando Campeões, como Eduardo. Quando questionados sobre a judoca, toda a turma do Complexo Esportivo da Zona Norte abriu um largo sorriso para lembrar o quanto Rafaela representa para eles. Assim como a carioca, eles também começaram no esporte dentro de um projeto social. Assim como Rafaela, também sonham com uma Olimpíada.
O objetivo pode ser maior que a pequena sala no Complexo, onde treinam no período inverso ao da escola. Se não se tornar realidade, o esporte já terá ajudado: formando cidadãos. O programa deu uma atividade a tantas crianças que antes não tinham o que fazer fora dos portões escolares.
– Eu não sei como eu estaria se não houvesse o projeto de graça. Talvez eu estaria terrível hoje e não teria conhecido o judô – brinca Eduardo.
A iniciação no judô é pela indicação dos amigos
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O ingresso no Educando Campeões foi praticamente o mesmo para os alunos que conversaram com a reportagem: indicação de amigos. Dentro da escola, eles receberam o convite para conhecer o projeto. Ninguém tinha ideia do que seria o judô. Mas o encantamento surgiu na primeira aula.
– Eu até achei que não ia gostar. Mas depois que comecei a fazer, vi que é um esporte legal. Até as notas melhoraram, porque o sensei pede. Então, temos que nos puxar mais na escola porque queremos passar de faixa – afirma Guilherme Brito Dias, 14 anos.
Se o rendimento escolar melhorou, não foi diferente para os relacionamentos pessoais.
– Nós formamos um ciclo de amizade que é para o resto da vida. Até com pessoas que eram da mesma escola, mas que nunca tinha se olhado na cara – lembra Jéssica Barcelos, 14.
Lógico que as artes marciais causaram uma certa desconfiança nos familiares. No entanto, as primeiras aulas e as competições ajudaram a derrubar este preconceito dentro de casa. Ainda mais quando os pais viram mudanças nas atitudes dos seus filhos. A disciplina é apontada pela garotada como a mudança mais perceptível desde que iniciaram a prática do judô.
– Ele me ajudou muito com a educação, porque eu falava o que vinha na boca. Aprendi a pensar mais antes de falar. Na escola, eu nunca estudei e agora sei que tenho que focar mais – destaca Maria Tatiane da Silva Rosa, 14.
O sensei realizado no projeto social
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Sensei dos jovens no Complexo Esportivo da Zona Norte, Jorge Larré Bossardi cobra notas na escola, dá lições de judô e ajuda na formação de novos cidadãos. Motivos para realização pessoal do mestre de 57 anos, que iniciou com 15 nas artes marciais.
– Me realizo mais dando aula do que quando competia ou treinava porque aprendemos com eles. Temos que nos superar a cada dia, para que eles evoluam e gostem das aulas – afirma Bossardi.
Como professor de garotos de várias idades, Bossardi tenta passar a principal lição do esporte:
– Nós temos que aprender mais a perder do que a ganhar. A derrota ensina muito mais que a vitória. Nessa hora temos que ter o amigo do lado para nos levantar. Até pouco tempo alguns iam competir, ainda crianças, e terminavam a luta com o pai brigando porque perderam. É justamente o inverso: quando se perde a criança já está mal. O que se tem a fazer? Apoiá-la.
Educando Campeões
Para participar do projeto, escolas ou os responsáveis podem procurar a Smel, na Rua Borges de Medeiros, 211, próximo ao Estádio Alfredo Jaconi. Ou também através do telefone (54) 3901.8946 e realizar contato com o coordenador do projeto, Miguel Kuse. O programa poderá aumentar o número de atendimentos, conforme o aumento na demanda.