Há uma Bombonera brasileira no Parque Olímpico. É a Arena do Futuro, onde neste sábado a seleção brasileira masculina de handebol enfrenta o Egito e pode confirmar a inédita vaga às quartas de final da Olimpíada com mais uma vitória. Ali, o caldeirão ferve, e a postura olímpica vai para o espaço. Ou você se lembra de ver torcida pulando e cantando em ginásio em Jogos anteriores?
Muito dessa animação vem da quadra. Os guris da seleção são a cristalização de quanto a torcida brasileira está carente de amor à camisa, de luta até a última gota de suor pela vitória. É isso que o handebol faz. E é por isso também que ganha. Como fez contra a Polônia, na estreia, e a Alemanha, na quinta-feira. Os alemães, é bom frisar, são os atuais campeões europeus e líderes do ranking.
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O Brasil é potência no handebol feminino. Foi campeão mundial em 2013, teve a catarinense Duda Amorim eleita melhor do mundo. No masculino, a modalidade ainda carece de um campeonato melhor, de mais clubes e mais espaço. Os jogadores precisam sair do país para poder viver do esporte. Dos 14 jogadores, só quatro atuam no Brasil – e três deles no mesmo time, o Taubaté/FAB/Unitau-SP. O restante está espalhado por Polônia, Espanha, França e Hungria. Essa falta de estrutura fez o armador Petrus desabafar depois de ganhar da Alemanha.
– O impulso para o handebol? Faltam clubes, estrutura, falta tudo. O impulso se dá porque os jogadores vão para o Exterior. Aqui no Brasil, não tem condições de viver do handebol. Do jeito que está, é um caminho meio difícil. A maneira de melhorar é indo para fora (do país).
Essa indignação é levada para a quadra. O técnico espanhol Jordi Ribera, que capitaneia há quatro anos o projeto olímpico da seleção, misturou isso com um espírito de abnegação incutido nos jogadores. O time parece um conjunto de Celso Roths. Ninguém pensa em brilhar sozinho. Tudo é pensado no coletivo. Nem mesmo Chuffa, o ponta rastafári goleador do time, sai do tom.
– Sabemos do nosso lugar, das nossas limitações. Se quisermos jogar individualmente, vamos perder sempre – disse, indignado, depois de cair para a Eslovênia.
O espírito de grupo veio com métodos pouco ortodoxos adotados pelo preparador físico Luigi Turisco, 38 anos. Na reta final de preparação, ele levou os jogadores para Atibaia por uma semana. Para reforçar o coletivo, colocou todos a fazerem rafting nas corredeiras de Socorro (SP). Como o handebol é um esporte de muita luta, os jogadores também tiveram aulas de muay-thai e jiu-jitsu. Para relaxar, sessões de ioga – do qual também Turisco é professor.
O ioga, defende ele, serve para deixar todos mais concentrados nos jogos. Principalmente o goleiro. Talvez isso explique a defesa de Bombom em sete metros (pênalti) cobrado pelo alemão Gensheimer, 1m88cm e 88 quilos. Bombom defendeu com o rosto. Foi a partir desse lance que a torcida passou a cantar e pular como se estivesse na Bombonera. Nesse momento, porém, a suavidade do ioga havia ido para o espaço. Entrava em cena a indignação. A mesma que faz a sincronia entre a seleção de handebol e uma torcida carente de dedicação com a camisa amarela.
*ZHESPORTES