Todo dia, Marcelo Rodrigues da Rocha, 16 anos, pega dois ônibus para ir ao encontro do amigo Zorro, no jóquei clube de Caxias. A parceria, que já dura quase um ano, rendeu ao menino caxiense e ao cavalo sela holandesa o título gaúcho de saltos (categoria jovem cavaleiro A - 1,10m), em julho. Não foi a primeira conquista, mas sim a considerada mais significativa pela revelação do hipismo gaúcho. Um jovem que, pelas palavras da mãe, Claudia, só foi parar no esporte para não cair do cavalo.
- O Marcelo tinha seis ou sete anos quando a gente costumava visitar um amigo que tinha uma fazenda. Ele montava num petiço (cavalo de baixa estatura) e saía para cima e para baixo. Por medo que ele pudesse cair e se machucar, meu marido o trouxe até o jóquei para aprender a andar. A ideia inicial era só essa, mas se tornou a vida dele - lembra Claudia.
Comprado há oito meses, Zorro é o segundo cavalo de Marcelo. Com carinho, o cavaleiro conta que ninguém acreditava que o cavalo, trazido da Suíça para o Brasil em 2012, pudesse se tornar um saltador.
- Quando o Zorro veio para Caxias ninguém queria ele porque era um cavalo problemático. Parava antes do salto, desviava obstáculos. Ele é bem malandro. Mas quem o vê hoje nas provas não diz que é o mesmo cavalo. Isso é resultado do trabalho que fizemos com ele - conta.
Antes de Zorro, um crioulo chamado Chacal foi o companheiro de Marcelo até ser vendido. E sobre o lombo de Chacal e de Zorro, o garoto construiu um currículo que não se parece com o de outros adolescentes. Competindo desde 2011, ele acumula pódios em competições de saltos (categorias 90cm e 1m10cm), adestramento e enduro equestre. No mês passado, chegou como favorito ao campeonato brasileiro de saltos, disputado em Curitiba, mas uma lesão na coluna do cavalo impediu que ele fosse até o fim da disputa. Um sonho apenas adiado para o cavaleiro, que espera dedicar a vida ao hipismo.
- Quero competir e trabalhar como instrutor, por isso estou sempre fazendo cursos e clínicas de aperfeiçoamento. Quando terminar a escola, vou trabalhar em um haras em São Paulo, e depois quero montar fora do Brasil também - projeta.
Em novembro, Marcelo participa da última etapa do ranking de saltos da Liga Hípica do Vale do Sinos, em Campo Bom. Como está em primeiro, tem boas chances de título.
Esporte caro, mas pago "no peito"
Não é à toa que o hipismo não figura entre os esportes mais populares do Brasil. Os custos que a prática demanda afastam a quem não dispõe de tantos recursos. Não que a família de Marcelo seja rica. O pai, Adauri, tem uma distribuidora de cosméticos. A mãe tem um salão de beleza. Mas ela define bem: quando falta grana, tem que ter peito para encarar.
Manter um cavalo no jóquei clube custa em torno de R$ 800 mensais (alimentação, baia e tratador). O equipamento para o cavalo beira os R$ 8 mil, enquanto a indumentária do cavaleiro não costuma baixar dos R$ 4 mil. Uma boa bota nacional, por exemplo, sai por R$ 500. Um culote, algo em torno de R$ 120. E um animal para começar a praticar, segundo Marcelo, custa algo como R$ 20 mil. Mas a mãe dá uma dica para quem quer colocar o filho no hipismo:
- Por ser um esporte que demanda muito investimento, acho que os pais devem investir primeiro na instrução, para ver se é isso mesmo que o filho quer. E só depois comprar o que for preciso. Muitos já saem comprando todo o equipamento, depois a criança desiste. O Marcelo só foi ter o primeiro cavalo após três anos de montaria.
Ainda segundo Claudia, falta apoio para quem quer praticar hipismo. De perto, ela acompanha a dificuldade da liga hípica de Caxias em entrar no cenário competitivo, esbarrando na falta de patrocinadores e na rigidez das leis de incentivo. Por isso, Marcelo compete por uma hípica de Novo Hamburgo, o que gera mais gastos com deslocamentos. Um dos sonhos para o futuro é que, simbolicamente, o bom filho à casa torne e ele possa competir representando a sua cidade.
Esporte equestre
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