Os tenistas Fernando Meligeni, o Fininho, e André Sá estiveram em Caxias do Sul no final de semana para um evento especial,: o lançamento de duas quadras de tênis do condomínio Villa Bella, no bairro Serrano. Antes de participarem das atividades e realizarem um jogo-exibição, os dois receberam o Pioneiro no hotel para uma conversa sobre o momento do tênis brasileiro.
Sá faz parte de um conselho de 10 tenistas da Associação de Tenistas Profissionais (ATP), que discute assuntos da modalidade. Até meados de 2014, o presidente era o suíço Roger Federer, um dos maiores jogadores da história. Meligeni é comentarista e apresentador nos canais ESPN.
Aos 37 anos, Sá, segue disputando o circuito da ATP em duplas. Ele começou no esporte com oito e aos 12 foi para os Estados Unidos aperfeiçoar o treinamento. Algo que, segundo ele, fez a diferença.
- Tem que ter sucesso cedo. Com 12 anos, era o número 1 do Brasil na categoria juvenil. Com o Fininho foi a mesma coisa. Precisa ter isso para que venha a confiança, o apoio, a base para o profissional - diz Sá.
Grandes amigos e campeões pan-americanos, ele e Meligeni, 43 anos, são críticos e realistas ao falarem sobre a estrutura oferecida aos jovens atletas. Eles não miram grandes perspectivas para um futuro próximo.
- É uma fase de transição. Mas a situação é aquela que todo mundo sabe, de falta de estrutura, da falta de uma política no esporte, de treinadores que capacitem esses jovens - destaca André Sá.
- A nossa situação é essa. A gente já teve seis jogadores entre os 100 melhores do mundo e tinha o Guga no auge. Mas, nossa realidade é ter dois, no máximo três brigando lá em cima. É diferente da Espanha, da Argentina, que tem 10 - complementa Meligeni.
É opinião comum a qualquer pessoa que acompanha o tênis. O país não soube aproveitar o fenômeno Gustavo Kuerten. E, como em tantos outros esportes, a falta de estrutura não permite que novos nomes se sobressaiam. Hoje, o número 1 do Brasil é o inconstante Thomaz Bellucci. Está longe de ser um ídolo. Falta carisma e a força mental de um grande campeão.
A esperança poderia estar em uma nova safra de talentos de jogadores juvenis que tem conseguido destaque em competições internacionais, casos de Orlandinho Luz e Marcelo Zormann. Porém, Meligeni acredita que falta algo fundamental para a transição para os grandes torneios.
- Temos cinco a seis garotos, e o mesmo no feminino, que tenham potencial para aparecer entre os melhores. Não passa disso. E o índice de possibilidade de perda esses atletas é de 90%. Precisa dar estrutura. A confederação pegar esse garoto promissor e abraçar a causa. Dar o suporte pra ele - defende Meligeni.
Ao analisarem as dificuldades do circuito, Sá e Meligeni brincam, lembram das aventuras e dos desafios do início da carreira, e alertam que as dificuldades só aumentaram. Para eles, o pai de um jovem que quer se aventurar no tênis, precisa estar ciente do tamanho do desafio.
- Hoje é muito mais caro. A gente fez um cálculo por cima: para fazer uma temporada inteira, com torneios futures e challengers, gastaria R$ 120 mil dólares. Daí você pensa que para um garoto estourar, são quatro ou cinco anos. É só fazer o cálculo: R$ 1 milhão de investimento - alerta Sá.
- Os jogadores têm que ter mais experiência fora do Brasil. E não só de jogar. Mas de conhecer o treino lá fora, de ver a estrutura. Mas isso também requer investimento e muito alto - destaca Meligeni
Sem grandes perspectivas
Tenistas consagrados, André Sá e Fernando Meligeni avaliam momento da modalidade no país
Jogadores estiveram em Caxias do Sul para evento fechado
Maurício Reolon
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