Aos 67 anos, Valdir Espinosa encontrou no Esportivo um desafio suficiente para fazê-lo acreditar em um novo projeto. Apreciador do futebol vistoso, onde a qualidade prevalece em relação aos sistemas defensivos truncados de hoje em dia, o técnico campeão do mundo pelo Grêmio em 1983 volta às origens.
Afinal, foi em Bento Gonçalves, no final da década de 70 que Espinosa encerrou a carreira de jogador e iniciou sua caminhada como técnico, chegando ao vice-campeonato estadual em 1979. Desde então, muita coisa mudou. A pequena cidade do Interior gaúcho cresceu e os desafios agora são outros.
Nesta quarta-feira, horas antes de ser apresentado oficialmente pela direção alviazul como novo diretor técnico do clube, o gaúcho de Porto Alegre, que reside a mais de duas décadas no Rio de Janeiro, concedeu entrevista ao Pioneiro.
Sentado em uma das casamatas da Montanha dos Vinhedos, mostrou o habitual bom humor, que só é abalado quando fala do momento do futebol brasileiro. Em Bento Gonçalves desde a semana passada, Espinosa começou a visitar empresários e iniciar conversas em busca de parceiros para o clube. Algo novo para ex-treinador. A ideia dele é mostrar a credibilidade conquistado em mais de três décadas comandando algumas das principais equipes do país.
Confira alguns trechos da entrevista:
Pioneiro: Que lembranças vem a mente ao recordar três décadas atrás e a sua passagem aqui no Esportivo?
Espinosa: O grupo maravilhoso que eu encontrei aqui como jogador. Existia uma identificação com o Esportivo e a cidade de Bento, além do compromisso de jogar bem. Depois, por ter sido aqui o início da minha carreira como treinador.
Pioneiro: Como foi essa passagem de jogador para treinador do Esportivo?
Espinosa: Estava encerrando a carreira e não queria ser técnico. Queria ser vendedor de vinhos ou móveis. E fui de férias pensando em voltar e ir para uma dessas áreas. Na praia, o Adilson, meia que jogava comigo, me chamou para um churrasco na casa dele. Fui e, quando cheguei, estava lá o diretor de futebol Osmar Migliavacca. Durante o churrasco, me fizeram o convite. Respondi na hora: nem pensar, quero vender vinhos ou móveis. O papo seguiu até que aceitei. Terminadas as férias, com o mesmo grupo que havia jogado, fechamos uma parceria de respeito e eles me ajudaram muito. Isso foi muito importante para chegar ao vice-campeonato gaúcho pelo Esportivo e, a partir daí, ir ao Grêmio e conseguir fazer uma trajetória e aquela longa viagem que terminou em Tóquio.
Pioneiro: Que mudanças chamaram a sua atenção nesse reencontro com Bento Gonçalves?
Espinosa: A única coisa que continua igual é o carinho do torcedor. Continua o mesmo de 78 e 79, quando aqui jogava, encerrei minha carreira e comecei como treinador. Até o vinho melhorou. É muito melhor do que daquela época. No dia a dia, a cada passo que dou, encontro coisas novas e vou conhecendo novamente. Este estádio aqui (Montanha dos Vinhedos) é muito bonito. Chego pronto para trabalhar.
Pioneiro: Este novo Esportivo terá de encarar novamente a segunda divisão gaúcha. Qual o tamanho do desafio de chegar neste momento?
Espinosa: Os desafios são grandes, temos consciência disso, e precisaremos trabalhar muito. A primeira coisa é parar de arranjar desculpas e ir aprendendo com as situações. Você pode ter conhecimento, experiência, trazer isso, mas precisa estar sempre pronto a aprender. É dessa forma que vamos passar para que todos tenha essa ideia, que se crie uma filosofia única a seguir.
Pioneiro: Nos últimos anos, o clube tem ficado distante do torcedor. E isso se nota nas arquibancadas. O principal objetivo é fazer essa reaproximação?
Espinosa: Com certeza. Mas, existem duas maneiras de trazer o torcedor. Uma é conversando com ele. A outra é mostrar para ele que está se fazendo alguma coisa diferente. Para o torcedor, claro que a vitória é importante, mas hoje só pensa em vencer. E o espetáculo do jogo? Não é colocar a bola na cabeça e sair fazendo embaixada. É qualidade, coragem de jogar futebol. E isso o torcedor que ver e não é só o do Esportivo. Vamos trabalhar para isso. Para que ele possa dizer que o Esportivo tem coragem, dentro e fora de casa, que ele joga bem. Isso acontecendo, o torcedor estará junto.
Confira o restante da entrevista na edição impressa do Pioneiro desta quinta-feira
Entrevista
Valdir Espinosa aposta em projeto inovador para reerguer o Esportivo: "Os desafios são grandes e precisaremos trabalhar muito"
Novo diretor técnico da equipe alviazul volta ao clube após 34 anos
Maurício Reolon
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