O técnico da Seleção Brasileira Luiz Felipe Scolari, o Felipão, mantém uma relação próxima com instituições da Serra _ principalmente o Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio, em Farroupilha, e o Hospital Pompéia, em Caxias do Sul. Mas existe uma escola, às vezes pouco lembrada, onde o nome dele é referência de sucesso. Os primeiros passos do professor foram dados no Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendoza, maior escola de Caxias, que hoje nutre admiração especial pelo egresso prodígio.
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No colégio estão arquivados documentos da carreira de Felipão no Magistério, entre 1974 a 1980. Além da ficha de contratação na escola, que mostra um jovem Felipão, já ostentando um volumoso bigode, a pasta guarda o histórico escolar do treinador. O certificado de conclusão do curso superior em Educação Física no Instituto Porto Alegre (IPA) traz o desempenho de Scolari no vestibular. Enquanto em Português, Matemática e Física ele obteve notas entre 3 e 3,4, salto em altura, arremesso de peso e teste com bola variam entre 8 e 9. Na faculdade, o treinador colecionou notas entre 7 e 9.
Na pasta também constam documentos que registram justificativas de faltas sem apresentação de atestado médico. Os motivos alegados normalmente são viagens realizadas em função da SER Caxias. Na época, Felipão se dividia entre as aulas e a zaga do time grená _ com uma atuação reconhecidamente limitada nessa segunda função. Tanto que não escapava da corneta dos alunos quando exigia além da conta nas aulas de Educação Física. "Mas eu te vi jogando domingo e não foi tudo aquilo", diziam os mais corajosos, entre eles o hoje professor Lindoberto Antonio Batista, 54.
- Era um zagueiro bem mais ou menos. Ninguém esperava que ele chegasse onde chegou - opina Rosana Borchardt, 51, outra ex-aluna que também seguiu pelo caminho do magistério.
A pedagoga Raquel Rojas Grazziotin, 51, discorda:
- Para mim, ele ser técnico da Seleção não é uma surpresa, é motivo admiração. Era certo que ele ia dar certo - empolga-se ela, enaltecendo a determinação e a liderança de Scolari, que já eram marcantes nas aulas de Educação Física.
- Ele ficou um pouco mais calvo e grisalho. Mas o jeito é o mesmo, não mudou nem as expressões. Quando ele aparece na TV falando que não gostou da atuação do Brasil e faz cara feia, eu enxergo ele reprovando alguma atitude nas nossas aulas - diz Maria Lucia de Souza Angeli, 56.
Lindoberto, Maria Lucia, Raquel e Rosana foram alunos de Felipão e hoje trabalham na mesma escola onde estudaram. Para eles, torcer pela Seleção tem um gosto especial: o entusiasmo é maior pela admiração que ainda nutrem pelo ex-professor, que exigia esforço e dedicação nos exercícios das aulas e cobrava igualmente homens e mulheres.
Raquel e Lindoberto integravam os times de vôlei e handebol do Cristóvão que disputam os jogos intercolegiais da cidade. À época, ser aluno do Cristóvão era motivo de orgulho. Ser atleta dos times e competir com outros colégios era particularmente especial, um prestígio ainda maior. Treinados por Felipão, foram alguns dos primeiros a perceber a ansiosa movimentação à beira da quadra, característica marcante do técnico em jogos da Seleção.
Em fevereiro deste ano, Felipão voltou à escola para gravar uma reportagem da Globo. Deu autógrafos, tirou fotos e perguntou sobre ex-alunos - os mais bagunceiros, aqueles que costumam marcar a lembrança dos professores. A visita também rendeu recursos financeiros. O colégio arrecadou dinheiro com uma ação beneficente que sorteará uma camiseta autografada pelo ex-professor.
Na torcida
Escola Cristóvão de Mendoza, de Caxias, tem admiração especial pelo técnico Felipão
Luiz Felipe Scolari deu aulas na década de 1970
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