O Japão tem muito mais a ver com o Brasil do que simplesmente ser o primeiro adversário na Copa das Confederações. Estão diretamente ligados pelo futebol. Zico é um mito no país asiático, enquanto o atual secretário de Esportes e Lazer de Caxias do Sul, Washington Stecanela, também tem alto conceito por lá.
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O ex-atacante, que defendeu o Tokyo Verdy, tenta se aproveitar das boas relações para tentar trazer os Samurais Azuis para a cidade. Além do mais, a maior população japonesa fora do Japão mora no Brasil. Em Caxias do Sul, são seis japoneses e cerca de 220 descendentes. O mais antigo deles se chama Teruhisa Takanashi, 73 anos, vindo de Yokohama.
O caso dele se diferencia da grande maioria que desembarcou em solo brasileiro ao longo do último século. Ele faz parte da leva de estrangeiros trazidos para sanar as deficiências de mão-de-obra especializada. O engenheiro mecânico se candidatou a uma das nove vagas que o governo brasileiro oferecia a japoneses nos anos 1960 em um de seus acordos de cooperação.
Segundo ele, de tão interessante que era a oportunidade, foram 24 mil candidatos inscritos.
- Valia muito a pena. No Japão, um engenheiro ganhava 32 dólares por mês, enquanto no Brasil se pagava 970 dólares - relembra.
Os Takanashi são uma família tradicional no Japão, com 46 gerações. Teruhisa faz parte da linhagem principal, fato que lhe afligia e acabou sendo um dos motivos que o incentivaram a deixar seu país.
- Eu sou diretamente responsável por mais de 600 pessoas no Japão. Por isso que vim para cá. Como era menor de idade, tinha de apresentar às autoridades uma autorização de seus pais.
- Sabia que não deixariam. Então, peguei o carimbo do meu pai, porque lá não se assina, se carimba, e falsifiquei uma carta. Como o governo brasileiro exigia que os aprovados trouxessem consigo uma quantia de U$ 400, pediu demissão na Toshiba, onde trabalhava, e fez bicos consertando motores de navios em alto-mar. Só avisou a família do embarque na última hora.
- Eles não decidiam se eu podia ir ou não. Então, meu avô, líder da família, me deixou vir, contando que eu voltasse em três anos. Só voltei 12 anos depois.
Chegou em São Paulo em 1961 para trabalhar na empresa Balanças Toledo sem mal saber dizer bom dia e boa tarde em português. Achava que o Brasil era uma tribo de índios.
- Pensava que aqui seria cheio de índios, cobras, macacos, samba e nem sabia do futebol. Chegou a ter empresa própria, mas perdeu tudo durante a ditadura militar:
- Foi tudo a leilão. Fiquei com uma dívida no valor de sete fuscas, que na época era um carrão. E sem noiva. Só tinha uma maleta e a roupa do corpo.
Para saldar a dívida, arranjou emprego em uma fábrica de calculadoras e à noite vendia pão de ló. Em 1965, o presidente da Robert Show, empresa caxiense, lhe procurou oferecendo trabalho. Acabou vindo um ano depois e conhecendo aquela que seria até hoje sua esposa, Solange. Depois, passou a trabalhar na empresa do sogro.
- Disse que só ficaria 10 anos, fiquei 23. Saí em 1992 e me aposentei. Decidi abrir minha própria loja, de aquecedores computadorizados - conta.
Agora, nem pensa em sair daqui:
- Tenho mais liberdade para aproveitar a vida. Lá é só sacrifício. Lá é só trabalhar. Para a Copa das Confederações, está otimista:
- O Japão vai surpreender. E do que jeito que o Brasil está jogando, não sei não. Gostaria de ir a alguma partida. Muitos amigos meus querem vir para cá na Copa do Mundo. Seria ótimo se a seleção japonesa se preparasse aqui na Serra.
Japão
Copa das Confederações: japonês vive há 47 anos em Caxias do Sul
Teruhisa Takanashi acredita que o Japão vai surpreender na competição
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