Com prejuízos de R$ 13 milhões apenas nas hortaliças em virtude das chuvas que atingem Caxias do Sul desde meados de julho, produtores rurais enfrentam dificuldades para recuperar plantações inteiras que foram perdidas. Por consequência, os itens estão em baixa nas prateleiras do comércio e os preços estão aumentando gradativamente. Somando todas as áreas, de acordo com o levantamento da Emater/RS e Secretaria Municipal da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Smapa), os temporais provocaram prejuízos estimados em R$ 30 milhões no município.
De acordo com a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caxias do Sul, Benardete Boniatti Onsi, a cidade já chegou a registrar, em anos anteriores, momentos de perdas na agricultura causadas pelas condições climáticas, como chuvas excessivas, granizo e vendavais. Entretanto, os estragos foram pontuais, ou seja, afetaram plantações em pontos específicos de Caxias e não o município todo. O que foi visto neste ano, principalmente entre os dias 17 e 18 de novembro, foram prejuízos de chuvas que atingiram áreas de plantações em todas as partes.
Segundo reforça o secretário de Agricultura, Rudimar Menegotto, esta foi a primeira vez que a situação climática afetou diferentes culturas em Caxias. Por esse motivo, não é possível fazer uma comparação dos prejuízos causados em 2023 com os causados por condições climáticas em anos anteriores.
— Nós tivemos perdas em anos anteriores, mas foram mais específicas, por causa de granizo, vento e até a própria geada que é comum na cidade. Mas essas perdas anteriores foram mais localizadas e pontuais. O que estamos vendo neste ano é o excesso de chuva, que está atingindo toda a cidade e, não só Caxias, mas todo o Estado. Vimos a situação de Muçum, que também perdeu tudo na agricultura no ano, então não tem comparação com outros momentos, é um evento climático diferenciado — afirma Menegotto.
Ainda conforme o secretário, as maiores perdas registradas em 2023 foram em plantações de folhosas, como alfaces, brócolis híbrido e couve-flor.
Menos produtos, preços altos e menor qualidade
Dos três itens citados pelo secretário, brócolis híbrido e couve-flor estão com alta nos preços, na análise de mercado divulgada pela Ceasa Serra na última terça-feira, 5. A comparação foi feita com os valores dos produtos do dia 28 de novembro.
Conforme o documento, no dia 28 de novembro, o brócolis híbrido custava R$ 3,70. Já na cotação do dia 5, o valor subiu para R$ 3,80. No caso da couve-flor, o preço do último levantamento de novembro era de R$ 5,16. Na primeira semana de dezembro, foi para R$ 6,11.
Segundo o diretor da Ceasa, Alceu Thomé, o aumento dos valores é explicado pela falta de abundância para a comercialização.
— Praticamente todas as hortaliças tiveram uma queda bem acentuada na produção. Percebemos que, em função da grande quantidade de chuva, está havendo a diminuição no número de agricultores presentes na Ceasa para a venda dos próprios produtos — avalia Thomé.
Além disso, as condições climáticas têm prejudicado a qualidade dos alimentos comercializados. De acordo com o diretor, não significa que estejam ruins para consumo, mas que a qualidade está abaixo do nível comum dos alimentos em Caxias.
"Perdi o meu trabalho, a minha plantação e o local para trabalhar"
Entre os agricultores prejudicados está o morador de Vila Cristina Vagner Paniz, que teve toda a área de plantio atingida por causa do temporal de novembro e, até o momento, não conseguiu contabilizar o valor total do prejuízo. Com uma área de plantação de 5 mil m², Paniz sempre colhia entre 400 e 500 caixas a cada mil metros quadrados, em anos com clima estável. Por causa do estrago causado pela chuva deste ano, conseguiu apenas cerca de 150 caixas em dois mil m² de plantio.
— Tem gente que entraria em depressão se passasse por isso, porque não é só perder a plantação. Eu perdi o meu trabalho, a minha plantação e o local para trabalhar. Para poder voltar, vou ter de reconstruir de novo, e é um negócio que demora. O pimentão leva 60 dias para fazer as mudas. No inverno, demora mais ainda. Então, são meses entre o processo de comprar a semente até começar a produzir, para, enfim, colher. É demorado para ganhar dinheiro de novo, depois de perder tudo e ter que recomeçar — lamenta Paniz.
As estufas do terreno, com estruturas compostas por ferro, madeira e cobertas por plástico, desabaram, quebraram ou ficaram tortas devido à força do vento. Debaixo delas, as hortaliças plantadas, que eram pimentão, tomate e pepino salada, que estavam em período de colheita, foram afetadas. Muitas ficaram destruídas e o pouco que sobrou foi colhido ou já está em processo de apodrecimento por causa do alto volume de água.
Por causa do estrago na área de plantação e na estrutura, segundo o agricultor, a única opção é começar o plantio do zero. Para isso, Paniz precisa retirar a safra destruída, consertar ou trocar toda a estrutura quebrada e plantar novamente nos 5 mil m².
— O problema é a mão de obra, que não estamos encontrando. Aqui é uma área de perau, precisa ter uma retroescavadeira que consiga subir na plantação. Mas muitas pessoas já estão de férias, eu encontrei um homem que pode vir aqui me ajudar, mas ele vem só em janeiro e preciso conseguir limpar para replantar ainda no começo do ano, porque, se não plantar, perco o período e assim fico sem a colheita do inverno — conta Paniz.
Apesar do prejuízo ainda estar sendo contabilizado, o agricultor já começou a comprar alguns itens para recomeçar o procedimento. A parte da plasticultura, que cobre as estufas, já está sendo adquirida. Os próximos passos são conseguir comprar os itens que sustentam as estufas e contratar a mão de obra que o ajude a fazer a limpeza no local.
Conforme avalia Paniz, que vive da agricultura, assim como o pai e o avô, muitos produtores prefeririam começar uma outra função do que gastar cerca de R$ 200 mil para recomeçar. Entretanto, para ele, que ama o que faz, o recomeço foi o caminho escolhido.
— Se colocar tudo na ponta do lápis, não vale a pena gastar para recomeçar, porque mês que vem pode acontecer de perder tudo de novo. Vai demorar, mas em dois ou três anos eu vou ter reconstruído tudo. Já comecei a comprar as coisas, tenho ideia de como vou recomeçar e o que mudar. Agora é força de vontade e construir — afirma o agricultor.
No caso do pimentão, pepino salada e tomate, plantados pelo Paniz, a reportagem fez um comparativo com dados da Ceasa Serra da primeira semana de dezembro deste ano com o mesmo período do ano passado.
O pepino salada, em 6 de dezembro de 2022, custava R$ 2,38. Na cotação deste ano, o valor está em R$ 4,13. O produto é o maior em porcentagem de crescimento de um ano para o outro em relação aos demais, com aumento de 73,5% em relação a 2022.
No caso do pimentão verde, o valor do ano passado era de R$ 5,83. Na primeira semana de dezembro deste ano, o preço é de R$ 6,67, com aumento de 14,4%.
O tomate, na primeira semana de dezembro do ano passado, custava R$ 5,79. Na primeira semana de dezembro deste ano, o preço apontado pela Ceasa Serra é de R$ 6,68. Aumento de 15,3%.
Prejuízos chegam a R$ 30 milhões
Conforme levantamento feito pela Emater/RS e Secretaria Municipal da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, somente o temporal que atingiu Caxias do Sul nos dias 17 e 18 de novembro causou danos na agricultura estimados em R$ 20.622.022,50. Outros R$ 10 milhões são estimados pelos técnicos para o total de estragos causados pelas chuvas que atingem a Serra desde meados de julho.
De acordo com o documento, as hortaliças foram as mais afetadas, por causa do solo encharcado, que ocasionou na erosão, perda de nutrientes da plantação e proliferação de doenças. O crescimento e desenvolvimento das hortaliças foi comprometido, como ocorreu com o agricultor de Vila Cristina. O plantio de folhosas (alface, repolho, couve e ouras) foi o mais afetado, assim como lavouras de alho. No levantamento, ficou estimado que hortaliças, folhosas e alho tiveram prejuízo de cerca de R$ 13.613.595.