Uma das culturas com o período de colheita mais alongado no Rio Grande do Sul, a laranja começa a render seus primeiros frutos na Serra. De abril a novembro, a região deve colher 19 mil toneladas da fruta, segundo estimativa do escritório regional da Emater em Caxias do Sul. O número fica dentro da média histórica e se assemelha ao registrado no ano passado, quando as propriedades serranas retiraram 19,5 mil toneladas das laranjeiras.
A Serra responde por 80% das laranjas de mesa produzidas em solo gaúcho. Ao todo, 870 produtores trabalham na atividade na região, com uma área plantada que chega a 1,2 mil hectares. Boa parte dos fruticultores provém da agricultura familiar, contando com pequenas áreas da fruta, com média de um a dois hectares. Esse é o caso de Eleandro Razadori, que cultiva menos de um hectare em Caravaggio da Terceira Légua, no interior de Caxias do Sul.
Razadori foi um dos primeiros produtores a iniciar a colheita em 2019, ainda no início de abril. Neste ano, ele deve obter em torno de 5 toneladas de laranja do céu, variedade que ocupa quase toda a área plantada em sua propriedade. O carro-chefe do produtor é a uva, mas ele decidiu apostar na laranja para ter uma alternativa de renda extra e também pela facilidade no manejo.
– O bom da laranja é que não coincide com a safra da uva. E praticamente não temos despesa. É só manter limpo o pomar e o que Deus manda nós colhemos. Não aplicamos nenhum produto – afirma.
O destino da produção dos Razadori costuma ser o Ponto de Safra, feira realizada semanalmente em Caxias. Além disso, uma parcela dos frutos é vendida para supermercados da região.
Colheita tardia é particularidade da região
Uma das principais características da Serra em relação às demais regiões produtoras de laranja no Brasil é a possibilidade de uma colheita tardia. Em geral, o auge da atividade no Estado costuma ocorrer entre maio e junho. No entanto, algumas propriedades serranas optam por postergar o ciclo do cultivo, chegando a retirar os frutos dos pomares por volta de setembro ou outubro. Em alguns casos, é possível encontrar produtores com frutas até em novembro.
– O grande trunfo da Serra é a produção tardia. Isso ocorre essencialmente por conta do clima mais frio. Alguns produtores optam por plantar para colher de agosto em diante – destaca Enio Todeschini, engenheiro agrônomo da Emater de Caxias do Sul.
Como consequência, a colheita na entressafra garante incremento na renda dos fruticultores. O produtor Clemente Valandro, da comunidade de São Miguel, no interior de Farroupilha, só cultiva variedades tardias de laranja em seus 15 hectares de pomares. Enquanto a maioria se prepara para colher, Valandro ainda está fazendo adubação e roçada em sua área.
– Cheguei a cultivar caqui e uva, mas desisti. Pelo nosso clima na Serra resolvi plantar só laranja e bergamota tardia. Vem dando certo – diz Valandro.
Para Valandro, a colheita só deve começar no fim de setembro e seguirá até novembro. Ele espera colher até 400 toneladas da fruta. Segundo o produtor, o preço pago pelo quilo das variedades tardias fica na faixa de R$ 1,50 a R$ 2,00, mais do que o dobro em relação à laranja colhida entre o outono e o inverno.
Em função da particularidade da colheita tardia, os números da safra serrana ainda podem oscilar dependendo de como for o inverno, segundo Todeschini. A ocorrência de granizo ou geada pode acabar influenciando no resultado final. No entanto, no momento, a tendência é de que a leve diminuição no número de frutos em relação à safra passada seja compensada pelo maior calibre das laranjas a serem colhidas.