A criação de um grupo de trabalho formado pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, entidades do setor e feirantes é a alternativa encontrada para diminuir a tensão dos agricultores caxienses com o governo do prefeito Daniel Guerra (PRB). Em junho, a secretaria comunicou que excluiria os produtores que comercializam produtos sem procedência e registro, como vinho, vinagre, aipim descascado e massas caseiras, das feiras do agricultor. Dos 160 feirantes, 26 estão irregulares, e dos 32 comerciantes, 12 necessitam se regularizar. O anúncio do grupo de trabalho ocorreu durante audiência pública realizada pela Comissão de Agricultura, Agroindústria, Pecuária e Cooperativismo da Câmara, na noite de segunda-feira.
Leia mais
Duas empresas de Caxias entre as Melhores e Maiores da Exame
+Serra: os benefícios e os desafios de vinhos, sucos e espumantes biodinâmicos
A fiscalização da secretaria leva em conta o regulamento interno da Feira do Agricultor (decreto municipal nº 9.069, de 3 de novembro de 1997), que diz que produtos industrializados ou semi-industrializados só poderão ser liberados para a venda atendendo às leis municipal, estadual e federal.
Além de anunciar a formação do grupo de trabalho, a secretária da Agricultura, Camila Sandri Sirena, apresentou as leis vigentes e chamou os feirantes irregulares de "atravessadores". Indignados, os agricultores interromperam a manifestação da secretária com vaias.
Camila ressaltou a importância da mobilização dos produtores.
– A secretaria não tem interesse em prejudicar vocês. Somos do Executivo e temos que executar as leis existentes. (...) Vamos montar um grupo de trabalho para estudar caso a caso para tentar achar uma solução de como vamos regularizar e melhorar os produtos que são comercializados.
O primeiro encontro do grupo de trabalho deverá ocorrer na próxima semana. O prazo para a regularização dos feirantes estava previsto para o dia 15 de agosto, mas está prorrogado para, no mínimo, mais 30 dias.
Com faixas com os dizeres "A colônia também faz parte da cidade", "Madrugamos para o bem de todos" e "Caxias deve muito aos colonos", além do coro "Feirante unido jamais será vencido", mais de 400 produtores lotaram as cadeiras e os corredores do plenário do Legislativo para pressionar o governo municipal a flexibilizar a legislação vigente.
Após a manifestação da secretária e de fiscais da Secretaria da Agricultura, que defenderam o cumprimento das legislações, produtores rurais ocuparam a tribuna para apontar a falta de comunicação e de apoio da secretaria e também apontaram a dificuldade de abrir uma agroindústria devido ao custo de investimento.
"O custo é muito elevado"
Para o presidente da Associação dos Feirantes de Caxias do Sul (Assofei), Rogério Bridi, o custo para a abertura de uma agroindústria familiar pode chegar a R$ 100 mil, mas o valor varia dependendo do tipo de negócio. Ele diz que a lei obriga à construção de pavilhão novo, à compra de máquinas e licenças.
– O custo de uma agroindústria é muito elevado. Estamos falando do pequeno agricultor. Para aquele produtor que tem uma produção de 1 mil litros de vinagre por ano, é inviável investir R$ 100 mil. Ele teria retorno somente após 15 anos.
Como alternativa, Bridi propõe regras para a venda de produtos processados, como a criação de um rótulo padrão com o nome do produtor, o número da banca e a especificação de cada produto. Ele se comprometeu com a utilização de embalagens novas para os produtos.
Bridi explica que a maioria dos produtores que cumprem a legislação comercializa frutas e verduras, e os que estão irregulares são os que vendem produtos processados. Ele aprovou a proposta do grupo de trabalho.
– O pessoal tem experiência, conhece a vida do campo e tem bom senso para administrar, e que não venha prejudicar ninguém – ressalta.
Entrevista: Camila Sandri Sirena, secretária da Agricultura
"Neste momento, todos precisam ter o produto regularizado com procedência"
Pioneiro: De que forma a secretaria pode apoiar os produtores irregulares?Camila Sandri Sirena: Estamos apoiando com orientação para a regularização de cada produtor.
Qual é a alternativa para os 26 produtores irregulares?
O grupo de trabalho formado pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural e entidades convidadas irá estudar essas alternativas.
Todos precisam formalizar sua agroindústria ou tem outra alternativa?
No momento atual, sim, todos precisam ter o produto regularizado, com procedência. Esta questão também passará pelas reuniões do grupo de trabalho.
Os produtores comentam que a formalização de uma agroindústria custaria de R$ 100 mil a R$ 500 mil. Qual é a estimativa da secretaria?
Para estimar o valor, é necessário conhecer a realidade de cada propriedade.
A prefeitura estuda a possibilidade de reeditar o artigo 12 do decreto 9.069/97 com regras mais acessíveis para os produtores?
Montamos o grupo de trabalhos justamente para avaliar essas questões. A princípio, o artigo se refere ao cumprimento de legislações estaduais e federais, as quais não temos condições de descumprir.
Os produtores sugeriram a criação de um rótulo de identificação, com o nome de cada produtor, número da banca e especificação de cada produto. Isso é possível?
Identificar é possível, mas somente isso não faz com que o produto responda às normas sanitárias vigentes. Essa questão também será levada para discussão no grupo de trabalho.
Feira do Agricultor
Secretaria da Agricultura de Caxias do Sul amplia prazo de fiscalização de produtos industrializados
Criação de grupo de trabalho para regularização de feirantes funcionará por 30 dias
André Tajes
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project